sábado, 18 de dezembro de 2010

Analógica

Sinto
E você é tão...
Lar.

Almejo
Apenas
Te encontrar.

E, sim,
Saberei
Que
Encontrei...

Um lugar
Onde ancorar
Minhas pernas,
meus braços.

E não precisarei mais navegar
Em busca de qualquer outro lugar.

Pois aqui
Me senti
Completamente
Protegido.

E, mesmo ferido,
Sei que não passa de um brilho
Que quero pra sempre guardar.

E o calor me protegerá
De qualquer frio
(na barriga)
De agora ou outrora.

Pois te amo
E ao seu lado
Me sinto...

Tanto.
Sem pranto.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Corações, Caixas e Trogloditas

Era um dia frio, a chuva caia e eu estava sentado na escada do colégio escrevendo aquele velho diário que me ajudava a ser eu mesmo.
E naqueles dias, naquelas últimas 10 ou 20 páginas, só haviam palavras sobre ela.
Sobre o vento que batia nos seus cabelos pretos e os fazia voar sobre seu rosto, escondendo seu olhar e alisando seus lábios.
Sobre o modo como a farda lhe caia perfeitamente bem, como que um tecido de seda.
Sobre como o ar a sua volta parecia bem mais perfumado.
No caderno, também haviam desenhos.
Corações e caixas.
Nas caixas eu me encontrava, sempre com medo do que podia encontrar fora delas.
Nos corações, apenas ela.
Enquanto escrevia e desenhava. A olhava a alguns metros de distância.
A via feliz, sorridente. Rodeada de amigas, tão ou mais bonitas que ela.
E via também vários pretendentes. Que, diferente de mim, tinham mais coragem.
E iriam falar com ela, cara a cara.
Por um momento eu quis ser como eles.
Mas sempre acabava da mesma forma.
Ela lhes dava a chance e eles lhe davam lágrimas em troca.
Eu não conseguia entender porque ela não aprendia.
Porque ela não examinava e percebia que meninos corajosos demais, fortes demais, bonitos demais ou perfeitos demais, não se preocupavam com ela e sim com eles próprios?
Porque ela se deixava ser acalentada por outro quase igual ao que acabara de magoá-la?
Eu não entendia e passei anos a estudar isso.
Resolvi um dia perguntar.
Sim, eu a amava, mas não iria me declarar, iria simplesmente perguntar o porque ela gostava de sofrer sempre os mesmos pesares, só para estar com um deles.
Juntei todo o resto da minha coragem e fui, firme e determinado.
Ao chegar nela ela olha nos meus óculos e me dá um sorriso amarelo, olha para o lado e acena com o braço.
Um daqueles trogloditas, o atual, vem e sem falar nada me dá um soco no rosto.
Depois a agarra pela cintura e olhando com desprezo para o chão, onde eu me encontrava, me diz apenas:
- Tá maluco idiota? Vai querer falar com a minha menina?
Olha pra ela e lhe dá um beijo, aperta ela com força na cintura e saem caçoando de mim.
Apanho meus óculos quebrados, ponho no rosto e levanto, entendendo um pouco mais sobre aquela relação doentia.
Ela precisava se sentir protegida.
Ele precisava marcar seu território.
Enquanto eu só precisava de amor.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Utopia do amor imor(t)al

Eu quero que nenhum amor morra,
Suma ou se desfaça.
Eu quero que nenhum amor morra,
Não finja, nem disfarça.

Não quero feridas,
corações partidos
Ou mágoas.

Quero você aqui
Exatamente onde
Meu sentimento deságua.

Não quero que o amor morra
Ou seja pouco louvável.
Não quero que o amor morra
Eu prefiro o infindável.

Choro por novos olhares,
Eles se revelam, intimidade.

E nos becos sórdidos,
Achei o óbvio:
Isto foi longe demais do lógico.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O mar

Estar quase afudando,
mas lembrar dos grãos de areia.
E saber que sempre vai haver onde pisar,
Mesmo no fundo do mar.

E querer que não fosse tão fundo assim.

E se fosse melhor?
Maior?

E se parecesse como a brisa?
Alisa.

E se não precisássemos de chão?
Novos ares, então.

Queria mais que o mar,
Quis sempre o ar.

Sentar e conversar.
Sentar e amar.
Porque se torna tão difícil, mesmo em frente ao mar?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Análise sobre a sarjeta e seus quase-fiéis frequentadores

Eles queriam o suor dos outros e todo seu orgulho. Queriam roubá-los e privá-los de expressar qualquer angústia, sendo a própria angústia o fim e o começo de todos os problemas, solucionáveis ou não, no contexto humano.
Eles cheiravam a novidade, mas o aroma não passava de fragrância fraca e barata comprada em qualquer mercado de esquina.
Mas gostavam da noite, da rua, da sarjeta e do estrago.
Gostariam de acordar e não despertar.
Queriam sempre não entender, pois compreender sempre foi mais difícil e nunca os levou a lugar nenhum.
Preferiam nem sonhar, pois isto desistimularia seus atos, que para os outros pareciam devaneios, ou mesmo delírios de luxúria.
Gostavam de apropriar-se de momentos não criados por eles, mas perfeitos.
E queriam sim, dividir seu ar.
Clamavam por um olhar, de atenção ou desprezo. E se sentiam felizes e realizados, se isto acontecia.
Andavam em grupos deformados na sua origem, mas puros na sua concepção.
Preferiam deslizar no chão. Pois pisar seria tão tedioso.
E, principalmente, olhavam nos olhos, mesmo que estivessem mentindo.
Pois gostavam de estudar o próximo e toda reação a favor ou contra eles próprios.
Brindavam à liberdade, sem citar o nome dela.
E se esbaldavam no eterno, enquanto transitório.
Lambiam seus lábios pra experimentar novas sensações e tinham medo das consequências, apesar de ausências serem bem piores para seus espíritos.
Sorriam como um saco de batatas sorri. Singelo, podre e inexistente, de satisfação plena.
Enfiavam até o talo o dedo na ferida alheia. Mas se divirtiam mais ferindo a si próprios.
E como gostavam de desejar.
Sentiam necessidade da vontade.
E só choravam por identificação mesmo.
Preferiam artes complexas e frias, a monumentos vibrantes e comprados por milhões.
Supriam-se do resto, do pó, da felicidade despejada no chão por outros mortais sem tanta sorte, ou genialidade.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Nada pode ser mais sincero que a arte (Ou O fim dos óculos vermelhos)

Sabe, sofia, não é tão fácil quanto parece.
Não pelo menos pra mim.
Nunca foi fácil amar e ser amado.
Eu sempre vivi assim, sob o efeito angustiante e eterno do, famigerado, amor platônico.
Sempre pensei em não me importar com nada, muito menos com a quantidade de amor que eu iria desperdiçar.
Mas, bebê, você me fez amar tão rápido e intensamente, que eu arriscaria dizer que não podia ser verdade. E, no fim, não era.
Tentei negar meu escritos, meus sentimentos, meus quadros, minhas desconfianças, mas era tudo real.
Era tudo triste e não tão satisfeito assim.
Eu pensava estar satisfeito.
Sim, eu já dizia ser feliz e sempre respondia que estava ótimo.
Mas não percebia que minha arte não estava nem um pouco alegre.
Percebi que tinha algo errado.
Mas, olha, te digo que você finge muito bem.
Seu objetivo foi concluído.
Conquistou-me.
E com o que queria nas mãos, parou de seguir em frente com a tentativa de, realmente, se entregar.
Claro, nem havia porque, pois eu mesmo já havia te entregado tudo.
Eu mesmo havia sugado toda responsabilidade daquilo que chamam amor pra mim.
Agora, me sinto descepcionado com as pessoas.
Descepcionado com o modo como elas levam a vida, ou, ainda, em como elas simplesmente ignoram qualquer outra fonte de sentimento, que não seja seu próprio peito.
Me sinto vazio e oco.
Despejei meu intimo numa bandeja e te servi, em pratos de prata.
Você se deliciou. Mas enjoou.
Nem pensou no quanto é difícil ser desejável por alguém.
Seus olhos me diziam coisas lindas e eu acreditava, acostumado a acreditar no 'espelho da alma'.
Mas esquecia sempre dos óculos vermelhos e de sua insegurança.
Sofri.
Vazio.
Angústia.
Desnorteamento.
Inutilidade.
Mas principalmente, fui inocente demais pra acreditar em qualquer coração que não o meu.
Saber que não vou ter mais o que me fazia dizer estar satisfeito.
Ou, ainda, saber que tudo que me fazia satisfeito era tão frágil (ou talvez nem existisse) que duraou apenas uns poucos meses, e mudou de um dia para o outro, como uma badtrip, que parece sonho e se torna dor.
Lembra aquele dia que chorei na praia?
Lembra como eu parecia desesperado?
Naquele dia eu TINHA que ter percebido que não era tão real assim, do seu lado.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Angústia cardíaca

Odeio a fragilidade inocente e a urgência do meu coração.
Ele atropela as coisas e pede tudo rápido demais.
Não consigo negar, pois sempre aprendi que o melhor a se fazer é seguir seu próprio coração.
Seguir a trilha que ele deixa me dá ansia de vômito e vertigem.
Sentiu, exigiu.
Com ele, sempre, sempre é preciso de mais.
E nunca, ninguém está preparado pra tanta intensidade, com tamanha rapidez.
Nunca fugi, mas quantos fugiram de mim já se tornaram incontáveis.
Queria poder pedir calma a meu coração e fazer ele respirar um pouco, com serenidade.
Mas ele prefere o agora e não quer saber de deixar fluir.
Prefere fazer acontecer.
E o pior, quando não consegue o que quer, não se acostuma com a perda e chora, sangra, dói.
E dói mais por ninguém compreender ele.
Bate forte, porra.
Arrebenta a pele do meu peito e se mostra.
Ele parece com todos os outros, mas bate mais forte e se incha de sangue: a velha angústia adolescente.
Angustiado com o pequeno porte da caixa toráxica que o abriga, comparado ao mundo que ele deseja conquistar.
Um grito alivia, mas um beijo, nunca volta.
E quando se entrega, ele parece sem controle.
Pede demais, exige demais, precisa demais. Não me deixa nem dormir.
Queria aprender um jeito de me comunicar com ele.
Ou de fazê-lo entristecer, sem precisar levar todo o resto do mundo para o precipício que parece tão enorme quando observado do ponto de vista do meu coração.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Óculos vermelhos

Estes óculos vermelhos existem, estão prostrados diante de mim e em cima de minha toalha de mesa verde.
Ela gostava de cheirar a mistério e preferia nunca deixar tão claro o que queria. Não por não saber, sim para atiçar a curiosidade alheia.
Sua textura quase rubra e totalmente lisa, me remetia a seu rosto e a exatamente o olhar que devia e podia ser escondido por aqueles óculos vermelhos.
Ela me olhava como um gato e adorava agir tal qual.
Gatos me deixam empático, curioso, desejoso e, essencialmente, livre.
Eles, os gatos, gostam de assediar nossas vontades. Nos fazem desejá-los, mas fogem sempre a qualquer movimento de aproximação.
E pessoas como gatos exercem atração e degustação a mim e ao meu desejo de conhecer. Pois gatos, na verdade, desejam ser o centro mais desejado, lindo e limitado de toda a atenção.
Gostam, as pessoas e os gatos, de serem desejadas, mas não exatamente tocadas.
E ela esconde seus olhos, maliciosamente, por trás dos óculos vermelhos que parecem me fitar com a mesma firmeza do olhar dela.
Sim, os óculos vermelhos combinam com seu ar de palhaça mais bela do circo. E com suas atitudes e intenções de olhar, tão facilmente decifráveis.
Gosta dos problemas, somente por eles serem uma fuga da rotina chata, angustiante e tão... Confortante.
E ter preguiça é ato do instinto, diria ela afirmando que eu falaria isso com ar de sabe-tudo.
Admitir é meio chato, às vezes.
Mas não evito sinceridade com aqueles que me apetecem por mais tempo que uma noite.
Seus olhos, e seus óculos vermelhos, me incitavam a praticar o mais louco ato de liberdade romântica e, ao mesmo tempo, a demandar toda e qualquer vontade do corpo pra um lugar onde isto não afete, ou fique, tão perto assim, do meu impetuoso coração.
E vírgulas me comovem.
Ela é mestre nas vírgulas e nos três pontos intermináveis.
Admirava (o gosto fugaz e louco dela) o silêncio precedente de um estrondo, seja este emocional ou, virtualmente, real.
Preferia o último momento, e não pensaria que o mundo acabaria em 2012, pois, simplesmente, não está em dezembro de 2011.
Gostava de enigmas, mas não os decifrava tão fácil assim, quanto parecia.
Seus óculos me lembram o sol e o jeito dela e delas, de serem oficialmente aptas a me proporcionar prazer falso e jovial e a me dar segurança de um mundo sem finais rápidos, me proporciona alegria e afeto.
Por isso olhar para trás quando uma menina esteticamente perfeita (para um quadro realista, ou para um simplesmente conceitual) passa a acontecer diariamente e momentaneamente.
E ela não entende que aquilo é amor, ou, simplesmente liberdade, palavra bem próxima, semanticamente, de libertinagem.
E preferia a orgia ao solitário sexo à três, também semanticamente 'falando'. E não ela, e sim eu.
Se fosse ela, eu e nós, ela acharia excitante, como ter alguém capaz, ou próximo de realizar seus fascínios.
Já isso vale tanto pra ela, quanto pra mim.
Gosta do cheiro de outras rosas, algumas tão próximas que se tornam impossíveis de não serem a maior causa de um beijo no escuro, quando sua vida poderia estar tão clara, se eu mesmo desejasse.
Mas não desejei, pois o escuro, infelizmente é mais atiçador, eu diria, do que o claro.
Mergulho na escuridão da pupila, preta, dela.
Acordo com lágrimas nos olhos e vontade de me identificar.
Ela é perfeita.
Assim como meu desejo de ver outros óculos vermelhos, ou verdes mesmo, sejam tão fortemente e tão perfeitamente intensos quanto as vontades dela de se sentir segura.
E sempre espero uma cena de filme pornô, daquelas que acontecem simplesmente ao acaso.
Ou cenas feitas para parecerem aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaacaso.

Fim (do dia de hoje).

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A velha sindróme do centro do universo

Esperou o dia raiar para dizer que nada mais era tão igual.
E que aquelas reais esperanças, de quando se tem 10 anos, realmente, não existem mais.
E o que resta é um lugar vazio, esperando por um complemento, ou algo que distraia e faça pensar em algo menos intenso.
Gostaria de ver os dias passando de longe, só para não se deparar com aquele velho sentimento juvenil e ultrapassado.
Ter medo de pessoas não é tão normal quanto possa parecer, já que o ser vivo que mais nos relacionamos são as próprias pessoas.
E elas te olham nos olhos e passa a ser muito difícil encarar de perto.
Ainda mais se esta pessoa ativar sua empatia.
Isso não é fácil e falar algo pode ser a pior saida quando se pensa em mais de uma possibilidade de compreensão.
O silêncio, nessas horas, não apetece tanto mais.
E incomoda a ti.
E a sentir que os outros também se incomodam.
Velha sindróme do centro do universo.
É talvez infantilidade demais, pensar que algo infitito vá ter um centro.
Por que até mesmo em partes limitadas, como corpos, não consegue encontrar centro ou direção alguma.
Difícil, então, rejeitar novos contatos, de pele, de saliva ou de idéias.
Porém mais fácil que expressar algo dúbio.
E isso se torna triste a partir do momento em que se quer poder dividir algo, mesmo que este algo seja um pequeno espaço neste infinito universo o qual sempre achou (e quis acreditar) ser seu centro esquecido.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O leve toque do ar condicionado e suas consequências para a solidão (ou Preliminar)

Só.
E os objetos parecem mais intangíveis.
Os pés quase não tocam o chão e as mãos não se encaixam umas nas outras.
E nem há outras por perto.
O jeito é flutuar e esperar.
Flutuar e esperar a hora de poder sentir algum toque.
Prefiro toques suavemente distribuidos pelo corpo, quase que não tocando a pele, do que toques desesperados por prazer.
Quero me arrepiar.
O olhar arrepia e ludibria.
Mas e o amor?
Este existe quando ainda não há toque?
Posso amar algo que não toquei?
Ou é melhor dizer que apenas gostei?
Sentir falta de ar é pior que precisar de ar?
Preciso te olhar nos olhos para te fazer gozar?

Peles ficam realmente mais sensíveis no frio.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Reza n°2709

O problema é querer e não ser querido de volta.
O problema é começar a amar e se esquecer de não controlar nada.
É, apesar de sentir a suave brisa da primavera te tocando as faces e te chamando pra voar junto a ela pelos ares perfumados deste enorme campo de trigo em que passei a me imaginar a partir deste momento, preferir não lamentar.
O problema é querer demais e não ter forças para conseguir.
Ou ser apressado demais até para as próprias sombras de possibilidades que te cercam.
E acreditar que todos são deuses, pode ser sim considerado loucura perante à lei de um rei cego que comanda olhos pulsantes de falsa fé.
Mas me emociono com o toque dos sinos ao anoitecer.
E eles me emocionam de qualquer modo e parecem soar para me lembrar que sou real e não represento mais que nada, nem ninguém.
E o estridente toque do metal do pêndulo batendo no metal da parede me lembra que sinos, livros, cruzes, palavras, minutos e deuses podem matar. E podem morrer.
Mas preferem apenas sorrir e olhar para meus olhos como se realmente fossem capazes de perceber a profundeza de um olhar humano, quando apenas querem me estudar para poder usar o resultado em pesquisas de intenção de votos, logo após.
Como podem esquecer que nós sentimos?
Eu posso sentir muito mais plenitude num toque de violino do que numa reza desesperada.
E prefiro assim.
Prefiro as coisas sentidas.
Prefiro o silêncio dos momentos e seus sinais de perfeição a cada segundo.
E o problema é querer voar sem nem ao menos ter asas pra começar a tentar.
O problema é esperar resposta de algo que não pode ser definitivamente explicado.
É querer explicar a real situação de um coração recém-apaixonado ou recém-solitário.
E ao tentar voar esqueceu de novo que as asas não podem ser feitas de imaginação, elas existem, mas não em você.

Se você assim desejar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Empatia, vontade e uns goles de sinceridade

Parte I -
Todos os gentis, têm segundas intenções.
O gentil quer no mínimo ser (re)conhecido em meio a tanto mormaço, que embaça a visão.
E o mesmo, é fraco e tolo.
Pois espera demais.
Simplesmente o ensinaram que só deveria fazer aos outros o que gostaria que fizessem a ele.
Mas porque ninguém fazia o que ele esperava?
E, mesmo sendo gentil, ele duvidou de seu próprio papel e se perguntou se realmente iria ganhar algo em troca daquilo tudo, um dia.

Parte II
Ele passa a não conseguir ser gentil duas vezes seguidas.
Sabe que nunca funcionaria e prefere focar em um só centro-de-atenção, digamos assim.
E foi sendo gentil, que aprendeu a agradar as pessoas.
E agrandando-as conseguiu o que ele queria, não importava o que fosse.
Se sentiu sujo, mas logo passou.
E preferiu continuar sendo gentil, mesmo, e não só esperando algo em troca e sim sabendo que algo vai vim, basta saber atraí-lo.

Parte III
Chamou isso de felicidade.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

30 tardes ensolaradas e a fumaça sobre nós

E sempre a encontrava bem, ao meu lado.
Fácil alcançar suas mãos.
E sua pele podia ser eleita como a mais suave de todas.
Ela conseguia ultrapassar a fumaça que sempre cobria meu olhar.
E ainda dizia que era bonito o que via através.
E seu olhar era sereno e sem pressa.
Sem pressa do amanhã.
E apesar de ter medo, fingia muito bem não sentí-lo.
Se tornou abrigo.
Sem castigo e sem controle de desejos, como antes era tão nítido.
Suas expressões, de tão misteriosas, me faziam querer olhar através da fumaça, menos densa, que também cobria seu olhar.
E ao tentar, fui surpreendido.
Surpresa boa, daquelas que te fazem acordar e sorrir, ao olhar pra frente.
Era mais.
E mais, era simples.
O pior é que eu não sabia nem como ficar com raiva dela e nunca conseguia me fazer de invisível ao seus olhos.
Ela me mostrou que na verdade não há um porque muito claro e exato de continuar querendo sumir.
Ela me prometeu coisas, não cumpriu.
Mas me deixou aqui e ali.
Sem exigir minha volta, mas tendo certeza que não seria fácil pra mim, não voltar.
Ela liberou um daqueles lacres que cultivei por alguns anos.
Sem querer, me mostrrou e me confirmou meus sonhos.
Me mostrou um caminho mais fácil, sem perdas, cobranças ou andanças excessivas pra lugar nenhum.
Me contou sem muitas palavras que o futuro nada mais é do que raios de sol, cortando a fumaça densa que se formava quando estávamos juntos.
Me deu um ponto.
Não um fim, mas um ponto. Onde pude me equilibrar e ao mesmo tempo me arriscar, sem temer ou parar.
Isso sem falar de seu beijo e de seu corpo que, quase magicamente, se adaptaram a mim.
Me dando calor e força por tardes que passavam suavemente despercebidas ao lado dela.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Um beijo no olho e outros desperdiçados pelo corpo

O acaso me excita,
A nudez, não.

O prazer me convida,
Deixa então.

Prefiro encontros não planejados.
Cheiro de sorte desperdiçada no ar.

Melhor que o corpo, nu, deitado
É o jeito como fui parar lá.

Os gostos se intesificam
Quando descobrem que venceram o talvez.

Os olhares se inflamam
Querendo prazer, de repente, outra vez.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A inabilidade do passar dos dias (ou Explicações para corações despadaçadamente bonitos)

Capítulo I -
Ele, definiu poucas coisas, quase nada.

Capítulo II-
Disse só que poderiam ficar com tudo, ele só queria a gaiola.
A gaiola que continha a dois meses atrás, seu passarinho.
Cujo ele mesmo soltou, quando, numa tarde qualquer, ele avistou o sol. Viu seus raios cortarem tudo, pricipalmente as folhas das árvores.
Percebeu, naquele instante, que por mais esforço que ele fizesse, ou pensasse em fazer, para ter em suas mãos toda beleza pura e verdadeira do mundo, não adiantava, pois nada de belo pode ser realmente possuído, ele percebeu.
E nada de verdadeiramente sutil e simples, como a beleza pode ser adquirido por consessão, ou não.

Capítulo III -
E ele soltou seus braços, que viviam cruzados.
Percebeu que o ar pode, sim, ser tocado, e que seu toque nada mais é do que sublime.
Quase tão suave como o toque imaginário de uma menina que você se 'apaixonou' instanteneamente ao vê-la na rua.
Mas, para ele, ato proveitoso, pois se trata de si próprio, não do resto do mundo, ou do resto da casa.

Capítulo IV -
Ele queria respirar.
E voltar a sonhar, quando não necessariamente estivesse adormecido. Sonhos concretos, realizáveis e só não, reais, pela questão prática da coisa.
Queria ter a vitória em suas mãos, antes de cruzar a linha de chegada.

Capítulo V -
Existiram épocas de fácil contato físico, para ele.
Mas preferiu esquecer e voltar a lembrar, que sexo, por si só, não cura carência.
E ele preferia sentir dor a não sentir nada.
E gostava de exacerbar seus feitos, ou seus fúteis conhecimentos.
Como se fosse preciso gritar, para ser realmente ouvido.

Capítulo VI -
E ele chorava toda vez que sabia que estava sozinho, e também quando encontrava alguém 'capaz' de sentir o mesmo que ele.
Egocêntrico, ou 'egotântrico', pelo prazer prolongado, de poder ser realmente, mas aos poucos e nem pra todos.

Capítulo VII -
Queria seu ar, porra.
Mas ela não entendia, e fazia questão de borrar tudo com seu cinismo, radicalismo, ou inabilidade mesmo.

Capítulo VIII -
E hoje, ele se importava aos poucos, pois o ar não era mais tão raro, quanto já foi.
E seu mal era a asma, ou a falta de ar proveniente de outros pulmões, algum médico diria.
Carência, o tolo gritaria.
E ele, óbvio, choraria. Por seus corações e seus sonhos-corações submersos em sentimentos escondidos pelo orgulho, ou pela auto-imagem cultivadamente pura mesmo.

Capítulo IX -
Ele sentia sim, medo, fome, vazio, desejo, vaidade e qualquer outro pecado.
Mas ao falar mal do pecado, falaria bem da igreja e isso, ele nunca quis.
Não nos últimos quatro, cinco anos. Que para ele passaram tão rápido como uma tempestade.
A famosa sindrome dos anos zero zero, que, por sinal, já passaram, e fazem ele lembrar de cem anos atrás, que mais parecem meses, passados a pouco.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Noite, febre, luta

Gostava de agir sempre assim, saia de casa sem olhar para trás e às vezes esquecia até de trancar a porta.
Preferia se livrar logo do mofo de estar num mesmo lugar sempre.
Não entendia a lógica de se ter um telefone fixo, já que nunca quis passar tempo bastante em casa para ser encontrado lá.
Preferia ser acordado de manhã com uma batida forte e quase decidida em sua porta, lhe chamando para fora, para brincar ou beijar.
E isso ele sempre desejou, beijos roubados ao léo.
Ou, pedidos com carinho suficiente para lhe fazer se sentir importante para alguém por, pelo menos, alguns momentos.
À noite, ele sempre procurava o lugar que fizesse mais frio.
Gostava de estar no frio para sentir a necessidade de um corpo quente por perto, e poder desejar aquilo sinceramente com toda sua vontade.
E sentia sempre um frio na barriga ao ouvir frases como 'amanhã não existe', ou 'te amo de amor'.
E não por acaso (pois o acaso deixa de existir quando se percebe que não existe realmente um deus, ou alguém mais superior do que ele próprio nas suas decisões diárias), ele gostava de olhar pros dois lados da rua, e da vida.
Gostava de saber exatamente onde pararia seu impulso puro e livre de simplesmente deixar acontecer. E por isso pensava demais e gostava de analisar minuciosamente todas as possibilidades.
Não que isso lhe ajudasse muito a tomar as decisões importantes, de fato.
Mas o livrava de um dos maiores males que já lhe ocorreram, o arrependimento.
Preferia soltar suas próprias frases de efeito, com sinceridade suficiente para convencer qualquer um que ele tinha, no mínimo, personalidade.
Olhava pros outros com o maior desprezo do mundo, pois a maioria das pessoas que via na rua, pareciam, sempre objetos abduzidos de um outro planeta, o 'planeta-bolha', onde usavam bolhas auto-sustentáveis para se proteger, se escondendo.
E desprezava o medo.
Desprezava 'conceitos-prisão', aqueles que o fazia se sentir impelido a cumprir, sem nem entender porque, pelo simples fato de ter apreendido isso, visto isso, vivido isso, pelo simples fato de existir a palavra normal.
Ele desprezava a normalidade e a ordinariedade de não poder experimentar algo considerado fora do comum.
Sabia e conseguia ver realmente a beleza de tudo, inclusive e principalmente da morte e do fim.
Mas mesmo assim, toda noite ele sentia falta de coisas que lhe ensinaram a gostar.
E preferia, mesmo adoentado, sair na rua e lutar, brigar, discutir, falar e ousar defender idéias que ele sabia não serem simples e de fácil assimilação pelos outros.
Ordinários, como ele e toda sua biologia e geneticidade, já comum e quase idêntica ao do outro que se encontra ao seu lado.
Mas gostava do frio, mesmo quando só, pois lhe fazia entender melhor o que realmente queria, e isso ele nunca conseguiu explicar.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

serosamudanãomudaomundoomundomudarosamuda

serosamudanãomudaomundo
omundomudarosamuda

omundonãofoifeitopratirosa
omundonãofoifeitoportirosamuda
queomundopodemudartambém

masomundonãoentenderosa
masomundonãoteentenderosamuda
queomundopodetemudartambém

seosonhomudanãomudanada
nadamudaosonhomuda.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

12 balas doces de sabor randômico na boca de 12 pessoas aleatórias

Ela simplesmente dormiu em meus braços, como se nada tivesse acontecido.
Se sentia segura e se deixava entregar ao mais incerto dos planos, o mundo dos sonhos, mesmo em meus braços.
Braços estes, que ela dizia trazer o maior aconchego que já havia sentido.
Mais cedo, estes mesmos braços, em que a delicada cabeça dela repousa agora, se estenderam à frente, segurando um embrulho vermelho brilhante, com um laço rosa, especialmente decorado para a satisfação visual e a expectativa emocional de precisar sempre ver empenho na demonstração de amor do outro.
E entreguei a ela.
Recebeu com um sorisso feliz, satisfeito, quase servil.
Desatou o laço que deslizou no embrulho, caindo.
Desembrulhou e antes de poder analisar direito o que acabara de ganhar, pulou em meus braços, me abraçando o pescoço fortemente, deixando o pacote cair, pra depois se desculpar, pegando-o rapidamente no chão, rasgando o papel de presente que embrulhava juntamente com a embalagem do que havia ganho, onde lia-se '12 balas doces de sabor randômico'.
Pegou um exemplar destes balas e ao invés de pôr na sua própria boca, olhou para o lado e deu a um amigo, que se encontrava sentado bem ao nosso lado, numa roda de amigos, 12 pessoas.
E depois lhe deu um beijo.
Aquelas pessoas se analisavam e refletiam sob uma lua cheia de outono, numa praia onde sentia-se o cheiro de vontades e desejos complicados de se realizar.
Mas a maioria das coisas complicadas podem ser resolvidas com uma palavra, ou simplesmente uma vírgula.
E foi o que ela nos deu, naquele momento.
A cada vírgula de sua fala sem sentido e perdida no ar, ela depositava em nossas bocas uma bala e um doce beijo naturalmente e equalitariamente intenso.
Deixou-me por penúltimo me dando a bala e me beijando da mesma forma de todos os outros
Me pediu um beijo depois de degustar sua última bala da caixa.
Feliz, ela me olhava com ternura e serenidade, como se aquilo fosse tão normal e fizesse tão bem quanto algumas drogas que usamos, pouco antes de dormir.
Todos se olhavam e depois deste ato, passaram a agir mais sinceramente, com eles próprios.
E eu ainda a tinha dormindo em meus braços, enquanto a lua sumia e o céu se coloria.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Casa Branca Perfumada e o Mar (Ou Alegoria para confiança II)

Ele sorria pela manhã, com a barba sempre bem feita, cabelos longos e encaracolados, soltos e bem lavados.
Ele vestia boas roupas, boas marcas e usava os melhores perfumes, com aromas que duravam até à tardinha, na hora que ele voltava do trabalho.
Eu lembro dele escovando os dentes, olhando fixamente e confiantemente naquele espelhinho que abria e ficava embutido na parede, enquanto eu ainda andava pela casa, sonso de sono, sentindo seu perfume e o cheirinho do café que vinha da cozinha.
Ele não seguia nenhum ritual, nem acreditava em deus, ao menos não tanto e nem perdia seu tempo entoando cânticos de proteção, naquela época nem ele, nem eu precisavámos de mais proteção que aquela casa branca.
Ele mostrava confiança, seu olhar parecia sempre dizer para seguir em frente.
E eu sempre tinha muita vontade de abraçar ele.
Ele me segurava pela cintura e me levantava bem alto, na altura do seu olhar e me olhava fixamente nos olhos, passando sua sabedoria de uma barba (que fazia falta) apenas pelo olhar.
Um dia, ele me levou pra praia, com todos os primos.
Ele me levava pela mão e ao chegar no mar, me pôs em seus ombros, foi andando como se seu corpo não estivesse imerso. Em seus braços, seguravam os outros meninos e meninas que eram puxados, mar a dentro.
Chegamos num arrecife e ele me pôs lá em cima. Era alto, um pouco mais alto de que a cabeça dele (que era a única parte de seu corpo que continuava para fora d'água).
Os outros meninos e meninas subiram escalando.
Só havia ele mesmo na água em baixo e ele foi pedindo pra cada um pular.
Me deixou por último.
Olhou no meu olho e fez um gesto com os braços abertos me chamando como para um abraço.
Seu rosto não era tão confiante naquele dia.
Parecia que esperava e sentia tudo que poderia vir a acontecer.
Parecia entender que tudo mudaria e aos poucos ficaria cada vez mais difícil acreditar nas possibilidades, acreditar na incerteza, na falta de explicações, no não-seguro, no liberto.
Ele me via como uma insegurança. Não podia controlar, e mesmo assim queria que eu pulasse.
Pulei e vi as mãos dele cercando e seguindo minha cintura no ar.
Estava feliz, ele iria me segurar e tudo ia acabar bem, como numa outra manhã qualquer.
Mas me enganei, ele apenas acompanhou minha queda direto na água salgada do mar, com os braços por perto, mas sem tocar em mim.
Fiquei submerso. Senti o frio, o gelado, o sal da água.
Me puxou e atrás daquela cortininha de água que caia sobre meus olhos, vi os olhos dele, sorrindo. Sorriso de orgulho, orgulho de poder tirar de mim a felicidade de não esperar nada.
E O gosto salgado me vêm a boca toda vez que penso em confiança. Ou no passado.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Segurar e Soltar (ou Alegoria Para Confiança I)

Existem duas coisas que, do fundo da minha alma, queria fazer com você antes de o dia não existir mais.
E por ser você, e por ser agora, e por ser apenas mais um inspirar fraco e senil, seriam dois dos melhores momentos de nossas vidas.
E vai parecer que desde o dia que conseguimos enxergar o mundo, nossos olhos clamavam pela facilidade daqueles momentos, e que depois, eles e todos os outros orgãos, (que de alguma maneira se modificam ao sinal de qualquer sentimento forte demais, como quando perto de alguém desejável demais para não dar um 'oi' e que o estômago esfria subitamente) do nosso corpo palpável pudesse simplesmente morrer depois daquilo.
E o tempo, as horas e o resto do perceptível temporal, estariam finalmente em ordem, e não mais passariam tão angustiamente devagar, como em dias difíceis de terminar, ou descepcionantemente rápidos, como em dias que deixaram de existir pela possibilidade de algo bom no horizonte próximo.
O toque de nossas peles, somente naquele momento, dará a perceber que a minha pele e a sua são apenas continuações lógicas e suaves uma da outra, vai ser fácil tocar e ser tocado.
O oxigênio que for inspirado será puro e parecerá mágico, como uma droga perfeita que nos dará confiança, segurança, compaixão, sensibilidade e principalmente serenidade.
Primeiro gostaria de dormir com você e sentir sua presença próxima, mais próxima até que antes. Fazendo meu corpo perceber o toque suave da sua áurea e entendendo quase tudo que você resolveu um dia chamar de 'eu'.
E depois, gostaria de acordar bem cedo, alguns minutos antes de você e quando abrir meus olhos poder ter a grande e perfeita surpresa de ter seu rosto coberto pela inocência pura, perigosa e insegura de um sonho, bem na minha frente.
E poder absorver destas cenas a sintése verdadeira e lógica da única razão para continuar acreditando no ser humano: a imagem de seus olhos fechados e quase totalmente confiantes em mim, que dormi ao seu lado.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

E se eu deixasse de sorrir, você iria prefirir?

Não, porque, o que é clichê?
Se não o que se faz ter a impressão de não, isso não deveria reexistir.

Mas faz sorrir.
E parece cooexistir conosco, de novo.

Sobre o vento,
existiu o tormento de estar aqui e poder, de novo sorrir?

Seria o vento clichê?
Ou então o porquê de tantas 'faltas de não'.

Ou então,
Seus olhos parecem cansar e chorar?

E mesmo sentindo,
No ar, prefiriu não cooperar e deixar morrer, todo clichê.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O vazio molhado dos olhos dele

Me olhou com firmeza.
Certeza tinha,
De que o mundo definharia.

Se antes regojizava-se
Da alegria.
Hoje, ele só dormia.

Sobre as ruas,
Andava com cuidado.
Chegava a ver um ou outro buraco.

Seus olhos miravam o chão.
Não queria mais brincar, então.

Prefiriu contemplar,
Se esqueceu de sonhar.

E a água no seu olhar
Me cobria de razão.
Por ter feito dele são.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ode ao amor livre (ou Amém)

Sintetizou a tal póeira cósmica e mágica, e sorriu.

Mas o mundo não foi feito pra ti, Rosa.

Nem pra se olhar, nem pra se soltar.

E, mesmo sabendo que sempre haverá alguém pensando nele (e que quanto mais pessoas ele conhecer e cativar menos chances tem de se sentir só), conhece poucas pessoas e prefere o limite de correr o risco, apenas.

Mas se ele deixar o vento e o reflexo da água na parede simplesmente existirem sem precisar de porquês ou 'praquês'...

E deixar as flores o tocarem...

Deixar as frutas o deliciarem...

Vai preferir as frutas, por necessidade fisiológica mesmo.

Mas se ele deixar...

Os outros não vão mais falar-lhe sobre limitações e outras contradições exdrúxulas...

Fim (ou Amém)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Estudo sobre a capacidade de lotação (ou A quantidade de lugares vagos) do meu coração

Sobre a infância e os choros sem nenhum motivo aparente, posso dizer que usei. Tudo que fingi aprender na escola, no colégio e na vida sem nenhum perigo real, eu usei.
E hoje posso ver com mais clareza as lógicas e armadilhas desse caminho tortuoso em direção à morte.
E só posso falar com certeza, que o maior mal do homem é a tão cultuada Relação interpessoal.
Eu me entendo, sei de onde venho e de onde surgiram minhas fartas convicções. Sei o que é realmente certo e que o errado torna-se nulo para alguém de coração puro.
Mas conheço alguém, ou 'alguens' que me fazem chorar. Com lágrimas sinceras. E que mudam como um raio a minha vida e minha visão parca de mundo.
Vivo, sonho e espero tudo dessa frágil e solitária pessoa, antes citada como alguém, ou 'alguens'.
Meu mundo desmorona e eu esqueço, como num piscar de olhos, minhas antes fartas convicções por um simples motivo: agradar de todas as formas, este alguém que adentrou como um automóvel desgovernado em minha vida.
Tornar o mundo num paraíso eterno para esta pessoa, ou para estas pessoas.
E quando perto, como numa loucura sem sanidade alguma aparente, esse alguém (ou 'alguens') simplesmente deixa de existir, existindo, em minha vida.
O ar fica mais raro. E os sonhos se tornam meros detalhes acidentais de uma vida louca.
Sobra espaço num local antes lotado. Meu coração.
E, apesar de ter usado todo meu conhecimento infantil, vejo meu coração, e neurônios responsáveis pelas partes emocionais do cérebro, despedaçados.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Vontades espelhadas, verdades mostradas

Ele acordou de uma noite mal dormida. Aquele tipo de sonho que confunde a cabeça de todos, fazendo-os pensar se era isso ou a mais pura realidade, havia o pegado nesta madrugada.
O sonho não é tão importante. Ainda.
Cansado, se arrastou até o banheiro. Urinou de olhos fechados e só os abriu na frente do espelho. Viu seu reflexo e ameaçou-o com uma levantada de sombrancelha desafiadora. O reflexo fez o mesmo.
Ele continuou brincando com o reflexo durante alguns minutos.
Cansou e foi escovar os dentes. O reflexo fez o mesmo.
E percebeu que mesmo quando o movimento não era em direção ao espelho, o reflexo imitava o gesto, mesmo assim.
Resolveu testar.
Ele iria ficar o dia inteiro na frente do espelho, agindo normalmente.
Seus olhos estavam vermelhos e sua pupila dilatada.
Olhou como se estivesse olhando para uma menina.
Tomou um enorme susto.
Sentiu repulsa de seu próprio rosto.
Era ridículo.
Ele parecia a pessoa mais horrorosa que ele jamais havia visto.
Era mesquinho, machista, vulgar e nojento.
Continuou a olhar.
Deitou-se no chão frio e levou o espelho consigo deixando os braços estendidos, mirando sua cabeça recostada.
Olhou como se olhasse para as estrelas.
Outro susto.
Seu olhar parecia oco, fraco, nulo.
De novo, uma face monstruosa.
Parecia pedinte, sofredor, ele olhava pro céu desejando tudo, sugando tudo, como se quisesse o universo para si próprio.
Olhou pro lado e levantou.
Posicionou o espelho atrás de sua cabeça e tentou olhá-lo por cima dos ombros.
O frio subitamente lhe tomou o intimo.
O reflexo não era mais ele.
Não parecia nem um pouco com a imagem que ele sempre teve de si próprio.
Botou o espelho no lugar e olhou normalmente.
No reflexo havia desaparecido qualquer semelhança com a pessoa que entrou no banheiro sonolenta.
Virou as costas pro espelho.
Abriu a porta.
Caminhou até a cozinha, deu um abraço na sua mãe, imaginando como sua própria expressão deveria estar intragável, desviou o olhar dela e a girou de forma que fosse possível para ele pegar uma faca de serra sem ela perceber.
Enfiou a faca no bolso e cessou o abraço.
Deu um beijo na face dela e voltou lentamente ao banheiro, segurando suas próprias pernas para não correr.
Abriu a porta viu o reflexo horrendo.
Tirou a faca serrilhada do bolso e, olhando fixamente para o espelho, enfiou-a bem no lado esquerdo do peito.
Sua última visão foi seu rosto.
E naquele momento ele viu sua verdadeira face e sorriu, antes de morrer.
Seu último pensamento foi o sonho da noite anterior: uma orgia, com 5 meninas, todas totalmente submissas a ele, acontecendo no seu quarto, enquanto sua mãe dormia no quarto ao lado.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Saudades (ou Porque você insiste em músicas antigas?)

Se escrevo uma música de amor inspirada num lindo relacionamento com A...
Se o relacionamento termina, ou A morre, a música ainda é válida?

Se escrevo uma música falando sobre hábitos, costumes e rotina de B...
Se B muda sua vida e explode a rotina todos os dias, a música ainda é válida?

Se componho uma música com graves vindos da voz de C, solinhos doces como o toque das mãoes de C...
Se C me fala que não vai me tocar mais, a música ainda é válida?

terça-feira, 13 de julho de 2010

O ar e a íris

Sentado no ar, preferiu pisar no chão e olhar pra frente, para onde o seu corpo apontava.
Horizonte amarelo e seu sorriso ainda coloria.
E o ar? Arco. Íris.
Seu olho brilhou e esperou olhares brilhantes.
Os outros preferem falar. E ele não consegue desperdiçar este poder.
Palavras são fartas, mas o que sai de tão abundante parece, sempre, vazio.
Rostos sem novos medos.
Esperando sempre e não expressando o que guarda-se atrás do, agora escuro, olhar.

Cinza Escuro

Sobre o ódio, posso dizer que é necessário.
O resto, importa para alguns.
Hoje, ele me olhou com paixão.
Paixão controvertida, inversa.
Ele queria meu sangue.
Queria meu resto.
Ele sonhou com uma nuvem e viu ela ficar cinza, maior e cheia de água. Ódio celeste.
Ele precisava chover, como a nuvem carregada.
Seu sentimento precisava cair, chover.
Não suportava mais segurar nada dentro de si.
E ele resolveu chover em mim, descarregou sua angústia e depois sorriu.
Ele se completou e descarregou todo cinza, chuva e ódio em mim.
Sobre ele, posso dizer que seu coração estava tão cheio, que não conseguia apenas chorar.

sábado, 3 de julho de 2010

3

Eles se tocavam como amigos.
E se desejavam como amantes.
Suavam e conversavam.
Ele conhecia ela de um sonho.
Ela conhecia a outra, que foi apresentada a este, que se apaixonou por mais de um amor.
Três.
Talvez o número mais completo e aberto que existe.
3.
E três lados sempre se atraem por pequenos ângulos em comum.
Como num triângulo.
E era fato ver que nada podia ser mais sincero que aquilo.
E que nenhum pensamento triste, vulgar, pequeno, banal, egoísta e dependente poderia tirar glamour e amor dos momentos que viviam juntos. Os três juntos, ele e ela, ela e ela, nós, vós, eles...
Cumplicidade e liberdade eram cheiros que exalavam de seus corpos crus, quando juntos. Ou quando próximos, em pensamentos.
Faziam questão de não notar aquilo com outros olhos, que não os deles próprios.
Uma vida a três.
E sem portas impedindo a passagem de novos ares por entre os três.
Se encontravam e aquilo soava a festa, tesão, felicidade, desejo, vontade, toques de peles suaves e dois ou mais tipos de perfumes.
Era lindo.
O amor, como prova de não prisão.
O amor como ele deve ser, solto, incondicional. Sem nenhuma condição para se tornar um amor verdadeiro e, às vezes, instantâneo.
E eles podiam ver o outro, se deliciar com o gozo alheio.
Novas formas de se ter prazer.
Era esta uma das linhas que guiavam suas vidas, mesmo sem eles perceberem: procurar pela vida, em baixo de qualquer pedra, em cima de qualquer nuvem, uma sensação, satisfação absoluta. Sem rodeios, sem medidas, sem prazos. Só vontades premiadas.
E eles podiam provar mais de um gozo.
Podiam sentir mais, bem mais de apenas um desejo por vez.
Eles sonhavam e se encontravam vivendo exatamente o que tinham desejado.
Um dia eles se mudaram para longe.
Pois este é um país de loucos que se ofendem com beijos, amores e seios descobertos.
Eles precisavam de mais espaço.
Eles não conseguiam pensar apenas no seu próprio deleite.
Eles se deleitavam em provocar deleites.
E dois talvez fosse muito pouco pra tantos dias...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ar

Como se cada minuto fosse vivido como o último.
Suas entranhas fervem e te comem por dentro.
Todo ato é seu último.
E todo respirar...
Se cessa.
E a cada expirar sai de dentro todo o ar velho e cheio de vida de um minuto, vivido com toda força, ao menos por seu corpo.
E o pulmão te pede o ar de outro.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Insólito ar

Voz mansa, como se nada ao seu redor realmente importasse.
Respiração lenta e ritimada.
E ter todo tempo de mundo a sua frente, ás vezes não é tão vantajoso assim.
Alegres são os que deixam o tempo passar.
Fechar os olhos e esperar o mundo decidir que está, ou não, na hora de você sorrir.
Ela acordou.
O dia era tão escuro e chuvoso quanto o anterior.
Não havia razão alguma pra sair da cama, mas ela saiu, desafiando sua sina.
Queria um pouco de atenção.
Sonhou com bolhas, num mar de sabão.
Dormia num quarto umido e com uma brecha que entrava pouquíssima luz.
Mas ela não precisava de luz.
Ela não precisava de nada.
Nem amor, nem ódio, nem tempo, nem dinheiro.
Ela não era feliz e nem pretendia ser.
Estava bom assim.
Um dia chegou a sonhar com o tal príncipe.
O procurou toda noite em baixo das cobertas e nas pistas de dança.
Não encontrou nada.
Desistiu do príncipe.
Desistiu dos homens.
Desistiu das pessoas.
Mas mesmo assim, continuava sentindo necessidade de pele.
Se tocava todo dia.
Aquilo a fazia sorrir.
Mas era tão solitário.
Ainda faltava outra pele, que não a dela própria.
Beijava paredes no banheiro, fingindo ser seu prícipe.
E ele parecia mais um junkie cult, do que exatamente um nobre de cabelos loiros e roupas limpas.
Resolveu parar de esperar.
Começou a olhar para os meninos, como apenas diversão.
Quebrou muitos corações, mas se divertiu.
Esperou o fim.
Morreu quieta e insatisfeita.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Satisfação (ou Desespero)

Como criança que vai dormir tendo acabado de voltar da sorveteria e onde tinha experimentado 3 sabores diferentes.

Sobre o céu, ele pôde ver suas nuves cobrirem a lua.

Ele quer engolir o mundo.

Aranha.

E era frio, como ele gostava.

Como alguém que sai de casa numa nevasca e entra em outra casa de alguém louco e cheio de vida pra mostrar.

Pontos finais são interessantes.

Mas os de continuação são mais misteriosos.

Reticência, então...

Ele prefere lugares diferentes.

Ele ainda sonha em experimentar todas as sensações.

Mas seu porto fica cada dia mais longe.

E mar adentro se entrega.

Olhando sempre pro céu.

E suas estrelas estupidamentes bonitas.

Há navios perdidos.

Sobre o mar ele pôde sentir na pele a sensação de prisão e liberdade de estar imerso.

Era bom.

Prefiria não lembrar.

Queria sonhar.

Como astros, que se conhecem e não se tocam.

Não.

O toque.

Sobre o ar ele não podia falar nada.

O ar existe?

Este que cerca sua boca é o mesmo?

Espaço.

Pouco espaço.

Quer perto.

Só.

Só a dois.

Três.

Como o ar, ele quer não existir e tocar tudo. Sem prender como o mar ou se esconder como a lua no céu ...

sábado, 26 de junho de 2010

Lágrimas e brilhos furtivos

Socar seu estômago.
Primeiro pensamento registrado numa cabeça que não suporta mais peso nenhum de nada que não seja concreto.
E o medo surge feito um trem descarrilhado e descontrolado que aparece por trás das árvores.
O soco te faria perceber que existe muito mais em uma pessoa do que seu olhar.
E que nem todas conseguem exatamente falar o que precisam. Lhes faltam instintos.
Te faria deixar o silêncio tomar conta. Deixar tudo ser como o ar. Que é sábio, a propósito.
Esquecer tudo que pôde um dia te magoar e te ferir, quando nem mesmo te toca.
E você devia mesmo saber que a vida não é apenas uma linha e sim um triângulo. Onde todas as partes se tocam e são dependentes.
Precisamos dos outros e precisamos de muitos.
Lembra aquele menino que conhecemos?
Ele ainda vive embaixo de uma macieira, naquela mesma colina. E toda noite ele sai pra caçar estrelas.
Ele tinha ganho uma, tempos atrás
Cadente.
Você chegou a conhecer, lembra?
Ela era linda.
Mas era só e cada vez brilhava menos.
Estrelas precisam das suas vizinhas para brilhar mais ou menos.
E ele precisava de novos brilhos.
Queria parar de admirar as estrelas apenas no ceú e ter só uma ao seu alcance.
Precisava disso.
No primeiro dia, ele simplesmente esperou a noite cair e viu a estrela que mais brilhava para ele, naquele momento.
Pois o brilho das estrelas certamente não é igual para todos olhos, assim como as cores.
Ele pulou por sobre os galhos da macieira e foi escalando até o topo.
Olhou para trás e viu sua estrela cadente sem forças para brilhar ou vim para o céu com ele.
Deixou-a com um triste adeus.
Voou e foi atrás da que mais brilhava.
Segurou-a com todos os dedos.
Toque quente, suave e espirituoso.
Trouxe-a pra junto do seu corpo.
Decidiu que aquela noite não voltaria pra macieira.
De manhã chegou e sua estrela no chão tinha virado pó. E foi levada com o vento.
Ele chorou.
Na outra lua, ele recebeu a visita daquela estrela da noite anterior.
Ela queria só sentir seu toque de novo.
E aquilo lhe fez bem.
Daí em diante ele passa quase todas as noites no céu, sendo impulsionado pela vontade.
Podemos encontrar ele de dia, deitado na sombra de sua arvorezinha.
Feliz e com uma estrela morta ao lado.
Lágrimas e brilhos furtivos é isso que ele tem agora.

domingo, 20 de junho de 2010

Brisas indesejáveis e 'nortes' pessoais

Começo meu dia olhando o céu.
Se ele estiver escuro, estou bem, se ele estiver claro, saberei que será um dia difícil de enfrentar até o fim.
Abro os olhos e não vejo ninguém. Imagino o porque do mundo ser visto em primeira pessoa.
É chato.
Queria poder observar em outros olhos.
Queria saber como eles veem o mundo.
E como conseguem engolí-lo.
Eu estou farto.
Não aguento mais sentir o peso disso tudo sobre mim e mesmo assim não tenho coragem.
Admiro e odeio os corajosos.
Eles esnobam ter conseguido o que sobrou de nós.
Eles sabem gesticular e falar.
Eu paro.
Observar, virou uma postura indesejável.
E ninguém consegue viver sem palavras.
Pelo menos, não eu.
Queria poder ditar a estes incautos sobre o poder da vida. Ou o poder de não conseguir viver como todos.
Queria poder gritar a todos que a loucura só vem da carência.
E que quando alguém se importa conosco, ou com nosso modo de vida, isso se chama felicidade, para todos nós.
Somos uma geração carente e precisamos, desta vez, de mais que um líder, ou porta-voz.
Precisamos de mais que apenas uma pessoa.
Precisamos nos entender e saber que isto, é desejável, mas vai sumir, como todo o resto.
E que o desejo, provém da necessidade.
E que talvez, o que queiramos, seja apenas uma necessidade, mal resolvida.
Esperamos por algo.
Espero por pessoas.
Que me adorem.
Ou finjam isto.
Espero, na verdade, não ter me tornado só mais um desses, podres egoístas.
E passam dias, como se fossem noites.
E elas se importam com meu jeito, minha fala, meu sentimento e ainda, minha roupa.
Queria que elas não tivessem medo disso.
Queria que elas se postassem de uma forma diferente da minha.
Sempre esperar.
Meu lema, sobre as pessoas.
Pórem difícil de executar, já que poucos sabem que você existe.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Euforias Momentâneas (Ou Apatia)

Ele tinha acabado de sair do bar.
Ele sentia o frio de perto e gostava disso.
Era noite, passava-se da metade dela.
Sono.
Bêbado.
Sono.
Cambaleava de um lado para outro, em zigue-zague distorcido e bem, mas muito bem, calmo.
Estava tudo tão vazio.
As ruas,
O céu sem estrelas,
Os carros estacionados,
O ar difícil de tragar,
O coração dele
E seu bolso.
Uma brutal descarga de responsabilidade é despejada em seu estômago.
Ele não tinha dinheiro nenhum.
Amanhã tinha que estar no escritório sujo e abarrotado de coisas e pessoas que se interessam demais pela merda de vida dele. Ás 8 da manhã.
Ele quase se desesperou.
Parou. Se apoiou na grade de entrada da seu kitnet.
Pensou,
Pensou,
Tentou resolver o problema. Mas ele nunca foi bom em resolução de problemas, muito menos os lógicos.
Era melhor entrar.
Dentro de seu quarto, ele continuava vendo tudo vazio.
Tão solitáriamente bagunçado.
Aquilo ali era muito ele.
Difícil tragar tanto ar cansado, usado e reusado pela mesma pessoa.
O quarto não tinha janelas.
Ele viu o chão e como se a bagunça lhe desse uma dica, ele pensou.
Podia pegar um ônibus lotado, na hora do rush matinal,saltar alguns pontos antes, e ir andando.
Ele só tinha uma passagem no seu cartão.
Economizaria a ida.
Foi durmir, pois já passava a primeira hora do dia.
No dia seguinte.
Sua cabeça doia.
Ele a tinha batido na parede algumas vezes durante o banho.
Fez isso pra tentar acordar, tentar parar de sonhar, tentar não querer mais do que seus braços podem alcançar.
Havia restos demais.
Haviam teorias de mais.
E tinha que correr.
Estava atrasado.
A hora do rush havia passado.
E ele só tinha como ir.
Era bom só ir.
Voltar, talvez não precisasse acontecer.
Amanhã talvez não precisasse mesmo existir.
E ele ainda teria que aprender a lidar com pessoas.
Era melhor se contentar com pouco.
E as surpresas boas só acontecem quando não se precisa mais delas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sobre corações acelerados

Tentei observar mais.
Tentei poder retirar daquilo algo poético, bonito, sublime.
Mas não havia nada além da boca seca.
Engolir a seco e esperar o ar chegar ao estômago.
Perceber o estômago vazio, com o ar rasgando suas paredes como asas de borboletas.
Os pulmões aceleram e você percebe sua pele se arrepiando.
No fim, é só o coração adiantando seu batimento.
Adiantando o passo, como se quisesse apenas passar, bater tantas vezes quanto foi programado para fazer e parar.
O coração rápido parece lhe fazer desesperado.
Você necessita que aquilo pare, e prefere pela primeira vez na sua (pouca) vida que o coração fique sem bater do que continuar batendo naquela velocidade.
O ar guiado pela velocidade dos pulmões, animados pelo batimento mais forte do coração, sai pela boca como energia.
Como vida, desejo, escolha, medo, misticidade, feromônio.
O ar envolve todos por perto.
É natural, apesar de parecer algo como crendice, mistério ou simples merda religiosa.
Acontece.
O corpo foi feito para sentir mais medo do sim do que do não.
O não é mais fácil e simples. Acostumável.
O sim requer muita coragem. Inimaginável.
Prefiro receber não. No fundo, eu desejo o não mais do que o sim.
Sou medroso.
E no fim não encontro nada de diferente e continuo tentando retirar algo sincero daquilo tudo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A lei acima da vida (ou Sinônimos)

Minha cama nunca mais desabou, tá tudo tão seguro e tedioso.
As noites parecem cada dia mais intensas. Encaro a noite não mais como uma crinaça, mas como um passeio na montanha russa. Onde você pode estar bem e tranquilo, para logo após entrar em estado puro de adrenalina.
Produzida por você mesmo.
Droga mais que natural, instintiva.
Sexta acaba e volto pra casa. Pro lugar que já foi tão reservado. Pro lugar em que eu não queria levar ninguém. E agora anseio por uma presença, pois o quarto parece maior e, consequentemente, mais vazio.
Gostaria de ter de volta tempos em que pude sentir o fluir da alegria. Da satisfação, ao menos físcia. E não posso mais.
Noite são como armadilhas. Te pegam desprevinido.
Sonhos quentes. Olhares ardentes e nenhuma verdadeira ação.
A cena se passa em um lugar vermelho, e que ali só se manifestava e sacramentava o desejo.
Eu estava mais próximo do que poderia.
Eu estava sentindo o contato com a pele dela.
Tentei evitar, mas fazia frio lá fora.
Era melhor se sentir quente. Mesmo por fora.
Queria alguém para forçar as estruturas.
Ela estava perto, ao alcance de minha voz.
Mas, pena, ela não poderia ouvir sussuros acanhados e tão baixos.
Só, pois não pude me comunicar bem.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Um cigarro, depois de pequenos arrependimentos diários.

Ele, ela e um planeta a frente.
O universo sempre foi infinito, mas pra nós ele nunca passou de um bocado de terra.
Um monte de terra, unida por uma força estranha.
Atmosfera.
Atmosférico seria um momento que vc se sente junto da própria atmosfera?
Se deixando levar por tanta 'energia' circundante?
Era atmosférico e idiota ao mesmo tempo aquele momento.
Ele dizia que foi ótimo revê-la. E ao mesmo tempo pensava em seus seios.
Ela dizia que foi legal revê-lo. Felicidade contida. Ela pensava no abraço aconchegante dele.
Eles não diziam uma palavra que não fosse mais profunda que o universo, buscavam tudo que lhes fugisse à mente, exceto o que realmente queriam.
É sempre assim.
Nunca fomos realmente diretos, desde que nascemos e choramos por isso, por estar vivos. Aliviados?
Está no nosso inconsciente: se mentirmos pra agradar, seremos recompensados.
Mas erramos ao pensar que se mentirmos pra nós mesmos seremos recompensados por alguém que não seja nós mesmos.
E o corpo sabe disso.
E avisa-nos.
Com boca seca, coração forte, meio que implorando por uma atitude real e sincera.
E continuamos parados.
O que há de errado conosco?
Deixamos escapar por entre nossos dedos, bem na frente de nossos olhos, toda oportunidade que aparece instantaneamente.
E ainda arrumamos desculpas sinceras para isso.
Nada que convença seu corpo, que continua implorando pelo corpo dela.
E no fim a noite é fria.
Como todo resto dos dias.
Mas parece pior, pois um poderia estar se esquetando no outro, se alguém falasse algo sincero, sem medo, pudor, ou o que seja.
Noite, descepção e qualquer outra coisa que exiga você por inteiro, pede um pouco de fumaça, um pouco mais, apenas.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O cheiro de terra molhada e o perfume nostálgico das flores

Eu sei que eu tinha uma rosa.
Ganhei de uma forma tão linda e merecida, que na hora eu pensei em nunca deixar aquela rosa morrer...
Eu a botei em um lindo vasinho, que comprei com algumas moedas que tinha achado pelo chão.
Todo dia de manhã eu acordava mais cedo que meus pais e enchia um copinho de água da torneira e ia regá-la.
Era tão lindo ver ela nascendo com aquela luz do amanhecer. Aquilo me dava forças para levantar e continuar andando.
Por incrível que pareça a rosa mudava de cor todo dia.
Havia dias que ela estava vermelha, tão forte que me lembrava o sangue. Ela ficava desta cor principalmente nos 2 primeiros anos de vida.
Outros dias ela estava azul. Serena. Parecendo que tinha o tempo inteiro a seu dispor. Ela geralmente ficava assim quando tinha 3 anos.
Mas depois de algum tempo ela foi ficando cinza.
E o amanhecer não parecia mais tão bonito assim.
Passei a acordar tarde, passei a não ter mais vontade de acordar, passei a sair de casa sem nem mais olhar minha linda rosinha.
Fui viver minha vida, tentar ser independente, tentar não me prender a nada.
Sai da casa de meus pais, aluguei um quartinho.
Levei a rosa.
Ela parecia ter voltado a cor vermelha.
Mas algumas pétalas pareciam azuis demais.
A rosa me fitava com ódio. Com olhar de reprovação. Parecia dizer que eu estava acabando com tudo.
Ela precisava de mim.
Eu adorava ela, e toda aquela sensação de segunda de manhã ensolarada e que não tinhamos nada mais grave a fazer do que ir assistir algumas aulas de ciências.
Um dia desses me lembrei de como eu almejava por uma flor dessas, quando nunca tinha tido nenhuma.
Eu chegava a sonhar.
Mas não imaginava que teria que me dedicar tanto assim.
Não imaginava que ela podia ser tão frágil.
Não imaginava que eu teria que escolher tantas coisas assim.
Eu não queria mais nada que exigisse mais de mim do que eu mesmo.
Pensei em deixar a rosa sobreviver sozinha por um tempo.
E deixei.
Não deu certo. Ela estava murcha e amarronzada com menos de uma semana. Ela me fitava com olhos de ressaca. Como se aquele tempo que eu dei para ela tentar sobreviver sem qualquer ajuda minha fosse tempo demais.
Pude perceber que ela precisava de mim. De verdade.
E eu queria ser capaz de mantê-la viva.
Queria ver ela brilhando. Vermelha. Ou azul. Tanto faz.
Eu precisava dela pelas manhãs.
Voltei a regá-la.
Agradecida, ela se esforçou e conseguiu se virar melhor sozinha.
De noite eu chegava em casa e ela estava bem. Rosinha. Não vermelha. Mas bem.
E eu passava a noite conversando com ela.
Mas de manhã eu havia adormecido.
E sem as manhãs, me perdi novamente.
Até que um dia, vi uma floresta linda no meu quintal.
Havia tantas rosas. Tantas precisando de um pouco de atenção, ou até de um carinho.
Senti vontade de trazé-las todas para casa.
Eu queria ser um floricultor.
E haviam mais que rosas. Haviam flores que de tão exóticas e misteriosas, soltavam um perfume que me remetia áquelas mesmas manhãs que passei com minha primeira rosa.
Minha rosa, foi vendo outras flores por perto. Foi voltando a ficar cinza.
Aquilo me deixava triste.
Eu queria que ela me deixasse estudar outras flores.
Queria ter mais do que uma flor na vida.
Mas eu quis demais.
E minha rosa morreu numa tarde de domingo.
E foi desesperador aquele momento. Eu sabia que logo, logo iria amanhecer e seria segunda e eu não teria mais nada além da lembrança da minha primeira rosa.
E depois dela. Nada, nenhuma rosa me fez tanto querer levantar e enfrentar a manhã da segunda feira, como ela tinha feito.
Juntei todas as flores que havia acumulado. Inclusive o vasinho vazio da minha primeira rosa.
Deixei todas elas na janela da minha casa e me retirei para meu quarto.
Nunca mais quis ver uma flor.
Nunca mais consegui sair do meu quarto, pois sabia que o primeiro cheiro que me viria às narinas seria o cheiro de terra molhada e o perfume nostálgico das flores.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sobre vontades quentes e ignoradas

Hoje, enchi meu próprio balde de verdades e resolvi jogar pela janela.
O balde tinha uma aparência meio pertubadora, ele era transparente e deixava vazar todo conteúdo de mentiras sinceras contadas por alguém que anda confuso com a verdade.
Seria verdade a vontade?
Seria a verdade o certo a se fazer?
E vontade eu tinha, na verdade o balde estava até a boca cheio de vontades não postas em pratica.
E por isso eu resolvi encher este balde e jogá-lo pela janela.
Quem sabe não caia na cabeça de alguém que se interesse por uma dessas vontades?
É meio suicida, eu sei.
Me expunho demais.
Mas é a única coisa a se fazer.
Joguei.
E todas aquelas vontades simplesmente escorriam pelas paredes do prédio.
Grudando em tudo.
Nem sequer uma gota daquilo chegou ao chão.
Ficou grudado na parede do meu prédio, para todo mundo ver, olhar, admirar e não poder tocar.
Essa não foi a primeira tentativa de atirar minhas vontades ao mundo. E falhou novamente.
Acho que as pessoas em geral ignoram coisas sinceras demais.
Pode ser perigoso né?
A vontade é algo tão cru e quente...
Que se ingerido com pressa deve fazer mal.
Mas te juro que se eu tivesse uma vontade pegando fogo na minha frente agora, eu não teria medo de me machucar.
Satisfazer alguém, apenas pela vontade, pode ser recompensador.
Agora, prefiro um cigarro e vou apagá-lo nas minhas vontades, agora grudadas, no parapeito da janela.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O entendiante e destruidor passar dos dias

Estou me tornando velho.
Intenso nem é mais meu respirar.

Fraca vontade.
Me deixo vencer pelas facilidades.

Não pareço mais
Aquele garoto.

Me vejo conformado.
Me sinto ludibriado.

Onde foi parar os 100%?
Onde fui enterrar meu coração?

Paixão,
Volta.

Sagitarius A

"Quando olhamos para Sagitário estamos observando diretamente o centro da Via Láctea."


"O centro galáctico é um lugar bastante tumultuado."


"No centro da Galáxia existe uma intensa fonte de emissão eletromagnética, chamada Sagitarius A."


"A densidade central do núcleo galáctico era muito mais alta que a de algum aglomerado estelar


"A atração gravitacional era tão intensa que os pesquisadores deduziram que a única possibilidade para tamanha atração era a existência de um buraco negro supermassivo no centro da Galáxia"





Finalmente pude ver algo de verdadeiro no horóscopo.


http://www.apolo11.com/spacenews.php?posic=dat_20100602-085541.inc

terça-feira, 1 de junho de 2010

O envelhecer do dia

O vento corta o céu azul
Do mesmo modo,
O sangue corta minhas veias.

O pulsar parece fraco.
Meu olhar, já não causa tanto estrago.

Meu desejo esmoerece.
Os dias parecem mais lentos.

Não consigo sentir a vivacidade
A juventude me é tirada
Através do vento que
Corta minha pele,
Levando lembranças
E convicções.

Hoje me vendo por
Mais barato que ontem
E talvez
Mais caro que amanhã.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Prelúdio de um inverno frio

Cansei.
A não-precisão das coisas me cansa.
Posso sentir sua respiração, não tão perto como queria, e isto não me faz bem.
Quero o ar quente, que sai do seu intímo, no meu pescoço.

E não é certo querer e não ter.
Tem algo que me diz que terei sempre o que quero.
Mas estou preso a aquela cama suja, naquele quarto com objetos deixados no chão, só pela comodidade, preguiça, desleixo, ou simples vontade não-contida.
Aquele quarto me consome.
E eu só queria te levar para lá, para dentro do meu quarto.
Te mostrar o não-tão-real mundo meu.

Preciso de um corpo (quente, de preferência) para aparar minha vontade devastadora de sentir outra pele que não a minha.

Queria minhas lágrimas rolando no seu ombro, só um pouco. Te molhar com a água que exprime o significado pelo qual vivo, quem sou ou porque continuo escrevendo e gritando parar todos os lados as armadilhas secretas que cercam meu coração.

O lábio é muito pouco, a pele de sua face limpa e lisa ainda não é suficiente.
Preciso ir mais fundo, te sentir por dentro, tocar seu interior, suar e sentir seu suor. Trocar energia estática. Fechar os olhos por saber que entendi.

É chato, e por isso cansei, mas eu sempre tento entender, conhecer, julgar, tocar em tudo que quero compreender e gostar...

Nunca é fácil deixar as folhas cairem e esperar pelo próximo outono...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quarto Vazio

Sabe aquela vontade?
Aquele momento perfeito que parece se dissipar no ar, como o próprio tempo?
Sentir tão perto, e estar tão longe.
Pronto pra tudo que for acontecer, menos para o não.
Esperando a vida fazer o papel dela.
Esperar nunca foi uma boa idéia, melhor é fazer acontecer.
Não que seja simples. A maioria das vezes não depende de você ou de toda sua vontade.
Querer não é tão poder, assim...
Isso é estranho e triste. Poderíamos sim, ter tudo que quisermos.
Mas nunca aprendemos como fazer isso exatamente.
E continuamos nos enganando.
Queria seu beijo, seu corpo, seu desejo.
Mas não pude ter.
E certamente, não que eu não quisesse.
Mas talvez porque você não quis.
Seria tão bom não manter as aparências.
Queria te ver nua.
Sem proteções, mágoas ou passado.
Queria te ver pura.
Eu gosto das pessoas.
E adoro suas opiniões, mas odeio seu jeito cínico e imbecil de não mostrarem o que realmente querem.
Mas também faço isso.
Sou podre como você.
Acho que apodrecemos junto com o ar, agora poluido.
Queria fazer tudo ser limpo e lindo, como um dia foi, só para te mostrar e te fazer sorrir.
E sua voz, tão macia e fácil de ouvir.
Gostaria do seu beijo, e quem sabe mais um abraço.
Antes de me entregar tão loucamente e solitáriamente a este quarto vazio.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Amores não respondidos

E pra quê mesmo que começei a sorrir?
Se toda expressão facial que demonstra alegria foi puramente falsa?
Falso, louco e tão estúpido que só me dava náuseas. Náuseas de mim mesmo.
Te afirmei coisas sem me afirmar antes. Sou mais um louco obsessivo.
Queria não precisar olhar para fora de meu mundo, tão particularmente meu. Lindo.
Mas os outros existem. E me entristece saber que os outros são iguais a mim. Vou vomitar.
Pretendo apenas apostar. Jogar fichas e deixar esta merda responsável que chamamos de destino, na mão de qualquer um, menos na minha.
No fundo são só amores não correspondidos, e ás vezes nem ao menos respondidos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

4e20

De repente o céu parece dois enormes elefantes brancos que sairam pra brincar.
O ceú está escuro, os elefantes escondem o sol.
E eu estou feliz.
Olho pro céu e sinto pureza.
Difícil é não acordar para sentir e ver tanta beleza em um evento tão singular.
E ando pela ruas como se fosse meu último dia.
Pensamentos de ontem e amanhã só me fazem desfocar do que quero hoje.
E continuo andando.
Meus pés estão encharcados.
Sinto apenas falta do carinho.
Sabe aquele que você nunca foi acostumado a deixar para trás.
E a satisfação de poder tê-lo a hora que desejar.
Sonho.
E sonhos são perigosos.
Eles te afastam da realidade e te trancam na própria realeza mágica do mundo das idéias e devaneios.
Ás vezes os dois mundos se confundem. E você pode sentir o gosto amargo da felicidade pura e instantânea.
E o cheiro do ar... Se parece sempre com aquele sutil cheiro de terra molhada.
O ar me toca parecendo delicadas mãos de uma menina de 16 anos.
Sinto um alívio.
E minha cabeça está vazia.
Vazia, cheia de idéias. Ainda flutuo entre o mundo real e o dos devaneios. Críticos, quando me deixo influenciar por outras mentes.
Penso no resto do mundo.
Penso nas pessoas que sentem o mesmo.
Penso nas que tentam sentir o mesmo e acabam matando a si mesmo, destruindo seu próprio mundo imaginário.
Penso nos medrosos, que deixam principalmente os sonhos para depois.
E ainda quero um abraço.
Ficar quente nos braços de alguém.
E poder sorrir.

terça-feira, 27 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dúvida!?

Hoje apareceu um "É" pequenino no topo, bem no meio, da tela da TV. Ele era verde-limão, daquela cor do "Volume", sabe?
Eu desliguei a televisão.
Liguei de novo a TV, uns dez minutos depois, foi o que suportei, sem ver aquele "É" pequenininho.
E ele estava lá de novo. Verdade, juro.
Na programação normal, tinha um cara, falando que a mulher dele já lhe trocou as fraldas, por que ele tinha uma doença, eu acho.
Chorei.
É.
Ele, o "É" da TV me dizia que "É" isso mesmo que eu estou pensando.
E te mandei uma mensagem, pouquíssimo tempo atrás, a uns 20 minutos. Dizia apenas que eu faria qualquer coisa por um abraço-beijo seu.
Mas essa palavra não existe, é o que você vai dizer, amanhã, ou depois.
E era verdade.
E se a recíproca fosse verdadeira, talvez poderíamos conhecer a felicidade.
Mas a felicidade não existe, só a conformação.
E eu odeio me conformar.
É outra vez.
Vamos tentar para sempre?
VAI PASSAR?
Opa, desculpa a caixa alta. Me exalto às vezes.
Não, dessa vez você se recusa a responder.
É eu deveria pensar.
Acho que já pensei. Só preciso de você, mas sabe, acho que não é a hora.
É sabe, na verdade o "É" não quer dizer nada e eu estou perdendo meu tempo aqui.
Nunca chegamos a lugar nenhum mesmo.
De que adianta eu continuar dizendo que quero ficar bem com você.
(É, eu quero ficar bem com você).
Mas preciso primeiro abrir seus olhos.
Talvez você não queira minha ajuda, insistir é chato. E eu sou chato.
Mas tô começando a pensar, talvez pela segunda vez.
É melhor nos separarmos.
Se você quiser ajuda, vai encontar outra pessoa, que te ajude mais, talvez um profissional, ou não.
Já que não queres a minha.
É não queres (ser) a minha.
Mas espero, no dia que você perceber, com 100% de alma, tudo que te falei, que você me procure.
Ou quem sabe eu consiga te ajudar de outra maneira, como amigo, sempre por perto, um mesmo-diferente tipo de amor.
É, eu te amo.
É o que me deixa bem, e me mantêm é a possibilidade de estar com você um dia, ao seu lado, de verdade e fazer parte dessa sua confusa cabeçinha.
É o "É" quase me ajudou.
E agora ele acaba de sumir.
Ou não.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Não venha me falar de muita manteiga no pão

Eu estava na mesa de jantar, e eles sempre estavam lá, me olhando, tão mortos. Cansados e quase acreditando na felicidade.
Eu queria apenas sair daquilo, comer rápido. Nunca admirei muito o clássico. O certo.
E a imagem da segurança estava ali.
A rotina lhes fazia bem. Eles planejavam, sempre. Gostavam das suas promessas de vida. E às vezes a dos outros também.
Ah, sim claro, a mesa era redonda, todos quase colados. Era engraçado.
E sim, eles me impediam de comer.
"Lesbianismo é uma palavra tão linda". Isso me vinha à cabeça.
Eu geralmente não falava nada, e esperava o tempo passar.
Esperava o dia que eu poderia falar.
Mal sabia eu que depois de um tempo eu teria esse poder de falar, eu podia continuar com o lesbianismo na cabeça e que, além disso, eu estaria totalmente, isoladamente e particularmente só.
Será esse o preço de querer um pouco mais de manteiga no pão e poder desfrutar de tudo completamnete, sem restrições ou medos tolos do amanhã?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

No fim (ou não)

Quando apagam-se as luzes
E os sonhos,
(O escuro é mais unitário
Que o claro)
Os humanos conseguem
Se olhar nos olhos.
(No fim os homens
Podem ser iguais)

E finalmente
Me enxergo igual a você
(Sem poder ver podemos nos amar
Sem pensar, sem julgar)
Sem esperança
E nem nada certo no amanhecer.
(Desesperados
Precisamos de antenção.
E sem saída,
Consultamos o coração)

Me sinto bem no caos
(Por isso o maior bem
Que pra ti desejo
É a sua própria
Desconstrução)
Me sinto igual!
(Não há salvação!!
Só queremos nos reconhecer em alguém
Que possa nos segurar pela mão)

Respiro
Não mais só.
(Quando apagam-se
As luzes de fora
Precisamos acender
O que há por dentro)
Posso ver em seus olhos
Algo pior.
(Não espero nada mais
Não me julgam mais)

(Mas pelo menos agora)
Não há diferença
(Mas pelo menos agora)
Entre o bem e o mal
(Mas pelo menos agora)
Entre o resto e a sobra

Atingimos o limite
De nossa própria
Organização...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Me apaixonei pela única pessoa, que não pude influenciar

Nasci assim, sempre que quis, pude modelar o pensamento, crença, vontade ou simples devaneio, de qualquer pessoa, que eu conseguisse conversar.

Era como um poder mágico, parecia sobrenatural, mas no fundo era só uma questão de analise.

Ao conhecer, ou ver qualquer pessoa que me despertasse o interesse de mudá-la, eu a olhava e estudava por completo. Por isso era bem calado. Eu sempre preferi observar.

E olhando de verdade uma pessoa, é fácil descobrir todos os seus segredos, medos, ou simples teimosias.

Olhar de verdade, é não precisar perguntar nada.

Sempre achei melhor fazer isto, antes de me relacionar com qualquer pessoa.

Era solitário, mas valia a pena.

Eu podia, transformar a cabeça de qualquer pessoa, numa coisa que me agradasse.

Era puro e nojento, fazer isso.

Mas eu continuava, afinal, não era qualquer um que podia, fazer o que faço.

Pude dominar todos que quis.

Mas nunca quis muito.

E da única vez que quis de verdade, não pude fazer.

Conheci, um tempo atrás uma menina.

Ela era frágil, pequena, e esquiva.

Parecia fácil mudar tudo dentro dela.

Mas não me apresentei. E relamente vi potencial nela. Pude vê-la ao meu lado, mudando o mundo (ou coisa assim), bastava apenas falar-lhe. E, eu sei, conseguiria tudo que quisesse, com ela, como antes, conseguia com todas pessoas.

Dias passaram. Meses, acho, também passaram.

Todo dia era mágico, só observá-la.

E era engraçado, eu via que ela era tudo que eu precisava naquele momento, bastava mudar pouquíssimas coisas dentro daquela pequena cabeça.

Falei-lhe:

- És o que procuro. Venha aqui, agora.

Ela me olhou com olhos de vidro. Vidro quase espelhado. E nessa hora pude perceber. Ela me ouviu, mas não parecia dominada por minhas palavras. Estranho.

- Não, ela respondeu e me virou as costas.

Bastou isso.

Me apaixonei completamente.

Ela era a única pessoa no mundo, que parecia não ser afetada por mim. Era lindo, ver isso.

Era como se eu fosse o que eu sempre pensei ser. Nada.

Eu era comum. Hipócrita, frágil e idiota como todo mundo.

E era bom saber disso.

Mas ela veio.

E eu tive medo. Foi estranho tentar me relacionar com alguém que eu sabia, não estava hipnotizado, louco, ou suscetível a meus pensamentos.

Eu estava nu na frente dela.

E eu estava morrendo de vergonha, por ela poder ver tudo, tudo o que relamente sou e escondi por anos, atrás dessa minha mania de mudar o pensamento dos outros.

Eu só fazia esconder-me, e ela me mostrou tudo de podre que eu era em apenas um olhar e um gesto.

Me beijou, como se eu pudesse a fazer feliz.

Aquilo me aterrorizou, me paralizou, na frente dela. Com os olhos colados, com aqueles olhos de vidro lindos, tranquilos e doces dela.

Louco, fugi.

Fugi e fiz toda questão do mundo, de fugir para um lugar onde não poderia ver ninguém. Nada vivo ou com consciência por perto.

E pude pensar.

Demorei alguns anos, e pensei que não voltaria. Nunca mais botaria meus pés em uma daquelas bolhas de pensamentos vazios, que chamam de sociedade.

Pensei que apesar de poder ter quase tudo, era inútil, pois sempre iria de haver uma pessoa que não seria influenciada por mim.

E que me fez cair de joelhos por ela.

Me apaixonei pela única pessoa, que não pude influenciar.

E então resolvi deixar de existir.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Óculos escuros te protegem disto

As pessoas que você vê na rua
Não se pode saber o que pensam

Elas podem querer você
Podem até te olhar nos olhos

E você nunca vai conseguir vê-la
Fácil
Tentar adivinhar

Julgar pelo olhar

E a alma, apesar de pura
Pode estar um pouco suja

E sujeira se esconde
Em baixo do tapete

Ou atrás dos olhos

Igual aos olhos que as viu
No começo

terça-feira, 16 de março de 2010

pequenas revoluções (ou coisa assim...)

Não falarei de coisas grandes,
pois estão longe demais de mim.
Não falarei de grandes revoluções,
pois destas eu não fiz parte.
Não falarei do rock,
pois dizem, está morto.
Não falarei do velho,
pois ele não existe.
Não falarei muito,
pois até minhas palavras são pequenas...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Sobre as Estrelas e o Amor

Eu não posso amar uma estrela só.

Elas são muitas.

E todas elas são tão lindas.

Eu preciso amar todas as estrelas.

Eu preciso tentar, pelo menos, olhar pra todas as estrelas.

Na verdade,

Eu posso amar sem tocar?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Apenas uma carta de amor

Isso é apenas uma carta de amor.
Não pense que isso vá mudar sua vida, ou te fazer largar tudo e se entregar totalmente para mim.
Esta não é minha intenção.
Qual poderia ser a única intenção de uma carta de amor? Expressar, ou mostrar o que estou sentindo.
Sabe aquela sensação de acordar, olhar para o lado, ver olhos intensamente mergulhados nos seus e perceber que nada, pode ser superior a segurança e a profundeza desse olhar sincero?
Sabe o medo que dá de não poder ver este olhar todos os dias da minha vida?
Estou aterrorizado.
Minha vida não tem sido a mesma.
Estou perdido. Olho, procuro, procuro e não consigo ver nada parecido com aquele olhar matutino.
E esse olhar parece cada vez mais distante de mim. De nós.E eu não sei como fazer pra recuperar.
Preciso deste olhar. TODOS OS INFELIZES DIAS DA MINHA VIDA. EU PRECISO DESTE OLHAR.
Eu preciso de uma razão para estar de pé amanhã.
Sei que não se pede amor.
Mas posso te pedir esse olhar?
Só mais uma noite, só mais um amanhecer ao teu lado. Só para eu poder ver este olhar novamente. E, pelo menos, poder lembrar dele perfeitamente.
Sinto um vazio.
Não gosto de nada vazio.
Ou é cheio, ou é cheio.
Ou é 100% ou não é.
Odeio isso que esta acontecendo.
Precisava te dizer isso.
Odeio ter que te pedir desculpas, odeio ter que te tratar como minha mãe. Odeio não ser seu amigo.
Odeio não poder me abrir totalmente com você, como era antes.
Mas posso explicar.Eu tenho medo. É exatamente o mesmo medo que você sente.
Eu também sinto ele e nunca tive como te dizer.
Eu sinto o mesmo que você.O meu medo, é o medo dos tímidos.
Tenho medo demais de me mostrar.
Medo demais.
Não consigo me mostrar pra ninguém.
Ninguém que eu não tenha certeza absoluta que não me ridicularizará.
Ninguém que eu não sinta 100% de segurança de abrir totalmente meu coração e contar todas as podreiras, todas as nojeiras, todos os pensamentos loucos, todas as esperanças utópicas. E não receber uma cara feia em troca, um "sai pra lá", uma ridicularização, ou o pior: um simples e sonoro, silêncio.
Só posso me abrir pra quem eu saiba que não vai embora.
Só consigo me abrir para aquele que não vá embora, pra aquele que não vá direto contar para todos os outros, a pessoa egoísta, pequena, louca, triste, incrédula, mas única que sou.
Não posso correr o risco de estar sozinho de novo.
O resto do mundo não pode me conhecer. Não totalmente. Eles não me entendem. Eles viriam atrás de mim de novo. Me excluiriam de novo. E eu não posso ficar sozinho.
Não, eu não consigo.
Eu só digo que amo uma pessoa, quando eu sei que para esta pessoa, eu posso ser eu mesmo, possa não ter vergonha, sem nunca me preocupar.
E você não esta me dando mais essa certeza.
E eu preciso de você.
Preciso daquele olhar sincero pelo menos mais uma vez.
Me deixa ser seu namorado por apenas uma noite mais?
Me deixa ser seu amigo, seu amante, seu amor por apenas mais uma noite.
Me aguenta só uma noite a mais?
Não foge.
Não me deixa com medo e sozinho.
Não conta pra ninguém sobre mim.
Não deixa eles continuarem me odiando. Não.
Me ajuda.
Me mostra como é bom estar aqui e vivo.
Como é bom amanhecer.
Eu sempre acreditei em você. Ainda acredito, mas meu medo só faz crescer.
E como a toda pessoa introvertida.
O medo me domina, como domina a você.
E eu tenho medo de ficar sozinho.
Não posso continuar me abrindo, me rasgando, me escancarando para alguém que possa me deixar. Só.
Por tudo,



Eu te amo, de amor, o único que existe.
Esse mesmo, louco e sem lógica alguma.



Seja sincera. E por favor, me responda esta carta.



Um olhar sincero, mas muito mais longe do que eu queria estar de você, neste exato momento, talvez.


p.s.: como todo covarde, me despeço, desculpando-me: me perdoe qualquer coisa.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O silêncio e os ruídos.

Lá estavam eles.Sempre bem vestidos. Roupas e acessórios limpos e impecáveis. Às vezes, eu odiava eles.

Lá estava eu. Silêncio.

A noite, de verdade, não parecia reservar nenhuma grande surpresa. Noite calma e silenciosa. Os ruídos faziam parte do silêncio. Sempre me interessei por ruídos. E no fundo, ruídos também se interessam por mim. Não confessam, mas me adoram. Me procuram.

Sim, de novo eu estava só. Não sozinho, sozinho nunca, pois essa sensação sempre me deu arrepios, mas só.

E elas, sempre elas, amores inatingíveis. E para mim, apenas para mim, inconfessos.

Ah, você deve ter ouvido falar de um desses amores. Amores instantâneos. Amores fulgazes, instantâneos, mas repetitivos. Porém tão verdadeiros e intensos que me tiram lágrimas.

E o que tenho a falar de medos? Medo é estar ali e nunca saber o que falar. Medo inconfesso.

A noite, eu, eles, elas. Nada demais. Nada.

O pensamento é a arte de se esquecer.

Abro os olhos, tudo continua igual. Ufa!

Vou atrás dos ruídos, eles não me seguem, eles nem me olham. Agora sou eu, a noite e os ruídos.

Avisto o céu. Pela primeira vez na noite, olho o céu. Entediante e maravilhoso.

Estrelas. Posso vê-las, mas não tocá-las. Estrelas existem? Não posso reponder.

Garganta seca. Umacerveja.

Não estou satisfeito e não estarei.

Me esqueço e penso. Elas, ela. Eu

Acho que me esqueci o que os outros querem. Sei apenas o que eles são. E sei bem.

Todos, sem exceção, são livros abertos. Consigo lê-los, mas nunca consigo pegá-los em minhas mãos.

Quieto.

Amanheço. Eu e o céu.

Não existe mais eles, nem a noite, ou elas.

O céu está longe demais para existir.

E eu estou perto demais para ser.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Flores e Deuses

Eu não acredito em flores,
Pois flores não existem.
As flores que vejo
São apenas frutos
Que não nasceram.
Eu queria ver flores...
Mas flores não existem.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A mulher no meu quarto

Entrei no quarto, aquele velho quarto podre, sem vida, e lá estava ela, vestida de vento, maravilhosa como sempre. Sinto amor. Ou tesão. E ela olha pra mim como se falasse com os olhos, uma língua que não compreendo. Tento também falar-lhe com meus olhos, mas não sou bom nisso.

Começo a tirar a minha roupa e ela continua apena me olhando, não sorri, não fala, não me toca, não me ama. Paro de me despir, sinto um certo ar de desprezo. Me sinto mal, sinto vergonha, pareço com a mesma pessoa de sempre. Gostaria de saber falar com os olhos como ela, para mandar ela sair dali. Mas as palavras não conseguiam sair nem de minha boca.

Saí do quarto e fui andar.

No caminho pensei em como aquilo podia ter acontecido. Como ela podia ter entrado no meu quarto, na minha vida, ou como ela podia ser tão fria a ponto de me deixar constrangido pelo seu olhar e seu corpo nu.

Voltei correndo, desci a escada, dei um chute na porta e para minha surpresa, ela continuava lá. Desta vez, toda vestida, elegantemente simples, linda. Senti vontade de beijá-la para o resto da minha vida. Mas não foi isso que fiz. Os olhos dela, continuaram me impedindo, falando aquela língua estranha e tão irritante que quase dei as costas e saí do quarto novamente.

Resolvi deixá-la lá e ir cuidar da minha vida. Mas que vida? Meu quarto falava por mim. A sujeira, a bagunça que reside nele é um reflexo idêntico da minha vida. Mas me sinto bem lá. Ou me sintia, até ela aparecer e não falar mais nada.

Ela me irritava. Odiava o jeito que ela continuava apenas me olhando. Jogando a culpa de tudo para cima de meus ombros, por meio de nada mais que um olhar. Sempre odiei a frieza, mas adoro o frio. É, ninguém disse que eu era normal.

Tomei banho. Voltei ao quarto. Ela ainda estava lá. E desta vez, nua novamente. Eu apenas de toalha, estava realmente excitado com toda aquela beleza exposta na minha frente. Mas isso não demorou muito, o olhar dela me impediu novamente. Senti que aquilo seria para sempre.

Me vesti, tomei coragem e falei:

- Vou fumar um cigarro na praça, me faz companhia?

Ela friamente, jogou seus cabelos para o lado, me olhou com um pouco mais de compreensão. E só. Nenhuma palavra. Seus movimentos eram lentos, ela fazia tudo como se tivesse a eternidade pela frente. Aquilo me irritava.

Saí e bati a porta atrás de mim com muita força, só mais uma maneira de tentar me comunicar com aquele sonho.

Na rua, vi alguém andando, como se deslizando pelo asfalto. Esse alguém era deslumbrante e tinha cabelos negros e bem tratados, parecia muito com a mulher no meu quarto. Era a mulher que estava no meu quarto.

Corri desesperado atrás dela, tinha que ser ela, ela tinha que falar comigo. Ela não iria me ignorar na frente de todos.

Alcançei ela, toquei em seu ombro, tão delicado e magro que me deu vontade de tocar em todo aquele corpo. Arrepio. Ela olhou para trás e me deu um tapa. Não era a mesma pessoa que estava no meu quarto.

Cabisbaixo, parei na padaria. Um café. Dois cafés. Uma dose. Um cigarro atrás do outro. Me sentia melhor.

Segui andando.

Realmente, a esta hora, eu não queria mais voltar para casa, para meu quarto. Pois a imagem dela, não me saia da cabeça. E eu sabia que ela continuaria lá, e continuaria sem me dizer uma só palavra.

O que eu iria fazer?

Em meio a pensamentos, meu celular toca. Número confidencial. Atendo:

-Alô?

...

Nada de resposta, havia alguém do outro lado, mas não me respondia. Não dizia uma palavra. Insisti:

-Alô? Alô? Alguém?

...

Continuava o silêncio. E o silêncio me fez pensar. Eu estava parado no meio da rua, atendendo um telefonema misterioso, em que ninguém me respondia. E eu não conseguia desligar.

Pensei ser ela. Mas como ela me ligaria? Será que ela conseguira um telefone, lá no quarto? Será que ela tinha saído e me ligado da rua?

Não fiz nada, continuei ao telefone, mas sem falar mais. É impressionante, até o silêncio dela quer me dizer alguma coisa. Não consigo recolnhecer se é uma coisa boa ou não.

Silêncio.

Tirei o celular da orelha, olhei a tela. O tempo de ligação continuava seguindo. A pessoa do outro lado ainda não havia desligado.

Passaram-se meia hora. E eu não conseguia desligar. Queria muito entender o que aquele silêncio poderia me dizer, queria saber o que ela tinha a me dizer. Mas não conseguia entender nada. Aquilo era simplesmente loucura.

Desliguei o telefone.

Me encontrei parado. Me senti perdido, apesar de estar na rua da minha casa. E, o pior, senti um vazio. Eu sentia falta daquele silêncio ao telefone. Eu sentia falta da mulher no meu quarto.

Meu corpo foi guiado a voltar. Fui levado por minhas pernas até a porta do meu quarto. Eu estava louco. Queria, precisava daquela visão. Precisava ver os olhos dela novamente, precisava tentar entender o que aquele olhar misterioso tinha a me dizer. Eu precisava entender o que era aquilo tudo. Eu Precisava dela. E ela sabia disso.

Abri a porta.

Ela não estava mais lá.

Tinha sumido, para sempre.

Eu só podia ver os lençois amarrotados, eu podia sentir o calor dela naquele quarto. Mas ela não estava mais lá. Eu a tinha perdido.

Chorei. Enfiei minha cara na cama, tentando sentir o cheiro dela. E senti. Que cheiro. Que perfeição. Que saudade.

O cheiro dela, ficou eternamente nos meus lençois. A imagem dela ficou gravada eternamente na minha retina. E meu pensamento só não tinha nome, pois eu não sabia o nome dela.

E tudo, tudo nela, seu cheiro, seu olhar, seu corpo, sua aparição, seu silêncio, tudo, queria me dizer algo. Algo que eu nunca pude entender, algo que minha fraca percepção, meu pequeno coração nunca conseguirá apreender ou esquecer.