sábado, 26 de junho de 2010

Lágrimas e brilhos furtivos

Socar seu estômago.
Primeiro pensamento registrado numa cabeça que não suporta mais peso nenhum de nada que não seja concreto.
E o medo surge feito um trem descarrilhado e descontrolado que aparece por trás das árvores.
O soco te faria perceber que existe muito mais em uma pessoa do que seu olhar.
E que nem todas conseguem exatamente falar o que precisam. Lhes faltam instintos.
Te faria deixar o silêncio tomar conta. Deixar tudo ser como o ar. Que é sábio, a propósito.
Esquecer tudo que pôde um dia te magoar e te ferir, quando nem mesmo te toca.
E você devia mesmo saber que a vida não é apenas uma linha e sim um triângulo. Onde todas as partes se tocam e são dependentes.
Precisamos dos outros e precisamos de muitos.
Lembra aquele menino que conhecemos?
Ele ainda vive embaixo de uma macieira, naquela mesma colina. E toda noite ele sai pra caçar estrelas.
Ele tinha ganho uma, tempos atrás
Cadente.
Você chegou a conhecer, lembra?
Ela era linda.
Mas era só e cada vez brilhava menos.
Estrelas precisam das suas vizinhas para brilhar mais ou menos.
E ele precisava de novos brilhos.
Queria parar de admirar as estrelas apenas no ceú e ter só uma ao seu alcance.
Precisava disso.
No primeiro dia, ele simplesmente esperou a noite cair e viu a estrela que mais brilhava para ele, naquele momento.
Pois o brilho das estrelas certamente não é igual para todos olhos, assim como as cores.
Ele pulou por sobre os galhos da macieira e foi escalando até o topo.
Olhou para trás e viu sua estrela cadente sem forças para brilhar ou vim para o céu com ele.
Deixou-a com um triste adeus.
Voou e foi atrás da que mais brilhava.
Segurou-a com todos os dedos.
Toque quente, suave e espirituoso.
Trouxe-a pra junto do seu corpo.
Decidiu que aquela noite não voltaria pra macieira.
De manhã chegou e sua estrela no chão tinha virado pó. E foi levada com o vento.
Ele chorou.
Na outra lua, ele recebeu a visita daquela estrela da noite anterior.
Ela queria só sentir seu toque de novo.
E aquilo lhe fez bem.
Daí em diante ele passa quase todas as noites no céu, sendo impulsionado pela vontade.
Podemos encontrar ele de dia, deitado na sombra de sua arvorezinha.
Feliz e com uma estrela morta ao lado.
Lágrimas e brilhos furtivos é isso que ele tem agora.

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