terça-feira, 28 de setembro de 2010

Reza n°2709

O problema é querer e não ser querido de volta.
O problema é começar a amar e se esquecer de não controlar nada.
É, apesar de sentir a suave brisa da primavera te tocando as faces e te chamando pra voar junto a ela pelos ares perfumados deste enorme campo de trigo em que passei a me imaginar a partir deste momento, preferir não lamentar.
O problema é querer demais e não ter forças para conseguir.
Ou ser apressado demais até para as próprias sombras de possibilidades que te cercam.
E acreditar que todos são deuses, pode ser sim considerado loucura perante à lei de um rei cego que comanda olhos pulsantes de falsa fé.
Mas me emociono com o toque dos sinos ao anoitecer.
E eles me emocionam de qualquer modo e parecem soar para me lembrar que sou real e não represento mais que nada, nem ninguém.
E o estridente toque do metal do pêndulo batendo no metal da parede me lembra que sinos, livros, cruzes, palavras, minutos e deuses podem matar. E podem morrer.
Mas preferem apenas sorrir e olhar para meus olhos como se realmente fossem capazes de perceber a profundeza de um olhar humano, quando apenas querem me estudar para poder usar o resultado em pesquisas de intenção de votos, logo após.
Como podem esquecer que nós sentimos?
Eu posso sentir muito mais plenitude num toque de violino do que numa reza desesperada.
E prefiro assim.
Prefiro as coisas sentidas.
Prefiro o silêncio dos momentos e seus sinais de perfeição a cada segundo.
E o problema é querer voar sem nem ao menos ter asas pra começar a tentar.
O problema é esperar resposta de algo que não pode ser definitivamente explicado.
É querer explicar a real situação de um coração recém-apaixonado ou recém-solitário.
E ao tentar voar esqueceu de novo que as asas não podem ser feitas de imaginação, elas existem, mas não em você.

Se você assim desejar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Empatia, vontade e uns goles de sinceridade

Parte I -
Todos os gentis, têm segundas intenções.
O gentil quer no mínimo ser (re)conhecido em meio a tanto mormaço, que embaça a visão.
E o mesmo, é fraco e tolo.
Pois espera demais.
Simplesmente o ensinaram que só deveria fazer aos outros o que gostaria que fizessem a ele.
Mas porque ninguém fazia o que ele esperava?
E, mesmo sendo gentil, ele duvidou de seu próprio papel e se perguntou se realmente iria ganhar algo em troca daquilo tudo, um dia.

Parte II
Ele passa a não conseguir ser gentil duas vezes seguidas.
Sabe que nunca funcionaria e prefere focar em um só centro-de-atenção, digamos assim.
E foi sendo gentil, que aprendeu a agradar as pessoas.
E agrandando-as conseguiu o que ele queria, não importava o que fosse.
Se sentiu sujo, mas logo passou.
E preferiu continuar sendo gentil, mesmo, e não só esperando algo em troca e sim sabendo que algo vai vim, basta saber atraí-lo.

Parte III
Chamou isso de felicidade.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

30 tardes ensolaradas e a fumaça sobre nós

E sempre a encontrava bem, ao meu lado.
Fácil alcançar suas mãos.
E sua pele podia ser eleita como a mais suave de todas.
Ela conseguia ultrapassar a fumaça que sempre cobria meu olhar.
E ainda dizia que era bonito o que via através.
E seu olhar era sereno e sem pressa.
Sem pressa do amanhã.
E apesar de ter medo, fingia muito bem não sentí-lo.
Se tornou abrigo.
Sem castigo e sem controle de desejos, como antes era tão nítido.
Suas expressões, de tão misteriosas, me faziam querer olhar através da fumaça, menos densa, que também cobria seu olhar.
E ao tentar, fui surpreendido.
Surpresa boa, daquelas que te fazem acordar e sorrir, ao olhar pra frente.
Era mais.
E mais, era simples.
O pior é que eu não sabia nem como ficar com raiva dela e nunca conseguia me fazer de invisível ao seus olhos.
Ela me mostrou que na verdade não há um porque muito claro e exato de continuar querendo sumir.
Ela me prometeu coisas, não cumpriu.
Mas me deixou aqui e ali.
Sem exigir minha volta, mas tendo certeza que não seria fácil pra mim, não voltar.
Ela liberou um daqueles lacres que cultivei por alguns anos.
Sem querer, me mostrrou e me confirmou meus sonhos.
Me mostrou um caminho mais fácil, sem perdas, cobranças ou andanças excessivas pra lugar nenhum.
Me contou sem muitas palavras que o futuro nada mais é do que raios de sol, cortando a fumaça densa que se formava quando estávamos juntos.
Me deu um ponto.
Não um fim, mas um ponto. Onde pude me equilibrar e ao mesmo tempo me arriscar, sem temer ou parar.
Isso sem falar de seu beijo e de seu corpo que, quase magicamente, se adaptaram a mim.
Me dando calor e força por tardes que passavam suavemente despercebidas ao lado dela.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Um beijo no olho e outros desperdiçados pelo corpo

O acaso me excita,
A nudez, não.

O prazer me convida,
Deixa então.

Prefiro encontros não planejados.
Cheiro de sorte desperdiçada no ar.

Melhor que o corpo, nu, deitado
É o jeito como fui parar lá.

Os gostos se intesificam
Quando descobrem que venceram o talvez.

Os olhares se inflamam
Querendo prazer, de repente, outra vez.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A inabilidade do passar dos dias (ou Explicações para corações despadaçadamente bonitos)

Capítulo I -
Ele, definiu poucas coisas, quase nada.

Capítulo II-
Disse só que poderiam ficar com tudo, ele só queria a gaiola.
A gaiola que continha a dois meses atrás, seu passarinho.
Cujo ele mesmo soltou, quando, numa tarde qualquer, ele avistou o sol. Viu seus raios cortarem tudo, pricipalmente as folhas das árvores.
Percebeu, naquele instante, que por mais esforço que ele fizesse, ou pensasse em fazer, para ter em suas mãos toda beleza pura e verdadeira do mundo, não adiantava, pois nada de belo pode ser realmente possuído, ele percebeu.
E nada de verdadeiramente sutil e simples, como a beleza pode ser adquirido por consessão, ou não.

Capítulo III -
E ele soltou seus braços, que viviam cruzados.
Percebeu que o ar pode, sim, ser tocado, e que seu toque nada mais é do que sublime.
Quase tão suave como o toque imaginário de uma menina que você se 'apaixonou' instanteneamente ao vê-la na rua.
Mas, para ele, ato proveitoso, pois se trata de si próprio, não do resto do mundo, ou do resto da casa.

Capítulo IV -
Ele queria respirar.
E voltar a sonhar, quando não necessariamente estivesse adormecido. Sonhos concretos, realizáveis e só não, reais, pela questão prática da coisa.
Queria ter a vitória em suas mãos, antes de cruzar a linha de chegada.

Capítulo V -
Existiram épocas de fácil contato físico, para ele.
Mas preferiu esquecer e voltar a lembrar, que sexo, por si só, não cura carência.
E ele preferia sentir dor a não sentir nada.
E gostava de exacerbar seus feitos, ou seus fúteis conhecimentos.
Como se fosse preciso gritar, para ser realmente ouvido.

Capítulo VI -
E ele chorava toda vez que sabia que estava sozinho, e também quando encontrava alguém 'capaz' de sentir o mesmo que ele.
Egocêntrico, ou 'egotântrico', pelo prazer prolongado, de poder ser realmente, mas aos poucos e nem pra todos.

Capítulo VII -
Queria seu ar, porra.
Mas ela não entendia, e fazia questão de borrar tudo com seu cinismo, radicalismo, ou inabilidade mesmo.

Capítulo VIII -
E hoje, ele se importava aos poucos, pois o ar não era mais tão raro, quanto já foi.
E seu mal era a asma, ou a falta de ar proveniente de outros pulmões, algum médico diria.
Carência, o tolo gritaria.
E ele, óbvio, choraria. Por seus corações e seus sonhos-corações submersos em sentimentos escondidos pelo orgulho, ou pela auto-imagem cultivadamente pura mesmo.

Capítulo IX -
Ele sentia sim, medo, fome, vazio, desejo, vaidade e qualquer outro pecado.
Mas ao falar mal do pecado, falaria bem da igreja e isso, ele nunca quis.
Não nos últimos quatro, cinco anos. Que para ele passaram tão rápido como uma tempestade.
A famosa sindrome dos anos zero zero, que, por sinal, já passaram, e fazem ele lembrar de cem anos atrás, que mais parecem meses, passados a pouco.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Noite, febre, luta

Gostava de agir sempre assim, saia de casa sem olhar para trás e às vezes esquecia até de trancar a porta.
Preferia se livrar logo do mofo de estar num mesmo lugar sempre.
Não entendia a lógica de se ter um telefone fixo, já que nunca quis passar tempo bastante em casa para ser encontrado lá.
Preferia ser acordado de manhã com uma batida forte e quase decidida em sua porta, lhe chamando para fora, para brincar ou beijar.
E isso ele sempre desejou, beijos roubados ao léo.
Ou, pedidos com carinho suficiente para lhe fazer se sentir importante para alguém por, pelo menos, alguns momentos.
À noite, ele sempre procurava o lugar que fizesse mais frio.
Gostava de estar no frio para sentir a necessidade de um corpo quente por perto, e poder desejar aquilo sinceramente com toda sua vontade.
E sentia sempre um frio na barriga ao ouvir frases como 'amanhã não existe', ou 'te amo de amor'.
E não por acaso (pois o acaso deixa de existir quando se percebe que não existe realmente um deus, ou alguém mais superior do que ele próprio nas suas decisões diárias), ele gostava de olhar pros dois lados da rua, e da vida.
Gostava de saber exatamente onde pararia seu impulso puro e livre de simplesmente deixar acontecer. E por isso pensava demais e gostava de analisar minuciosamente todas as possibilidades.
Não que isso lhe ajudasse muito a tomar as decisões importantes, de fato.
Mas o livrava de um dos maiores males que já lhe ocorreram, o arrependimento.
Preferia soltar suas próprias frases de efeito, com sinceridade suficiente para convencer qualquer um que ele tinha, no mínimo, personalidade.
Olhava pros outros com o maior desprezo do mundo, pois a maioria das pessoas que via na rua, pareciam, sempre objetos abduzidos de um outro planeta, o 'planeta-bolha', onde usavam bolhas auto-sustentáveis para se proteger, se escondendo.
E desprezava o medo.
Desprezava 'conceitos-prisão', aqueles que o fazia se sentir impelido a cumprir, sem nem entender porque, pelo simples fato de ter apreendido isso, visto isso, vivido isso, pelo simples fato de existir a palavra normal.
Ele desprezava a normalidade e a ordinariedade de não poder experimentar algo considerado fora do comum.
Sabia e conseguia ver realmente a beleza de tudo, inclusive e principalmente da morte e do fim.
Mas mesmo assim, toda noite ele sentia falta de coisas que lhe ensinaram a gostar.
E preferia, mesmo adoentado, sair na rua e lutar, brigar, discutir, falar e ousar defender idéias que ele sabia não serem simples e de fácil assimilação pelos outros.
Ordinários, como ele e toda sua biologia e geneticidade, já comum e quase idêntica ao do outro que se encontra ao seu lado.
Mas gostava do frio, mesmo quando só, pois lhe fazia entender melhor o que realmente queria, e isso ele nunca conseguiu explicar.