sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O mar

Estar quase afudando,
mas lembrar dos grãos de areia.
E saber que sempre vai haver onde pisar,
Mesmo no fundo do mar.

E querer que não fosse tão fundo assim.

E se fosse melhor?
Maior?

E se parecesse como a brisa?
Alisa.

E se não precisássemos de chão?
Novos ares, então.

Queria mais que o mar,
Quis sempre o ar.

Sentar e conversar.
Sentar e amar.
Porque se torna tão difícil, mesmo em frente ao mar?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Análise sobre a sarjeta e seus quase-fiéis frequentadores

Eles queriam o suor dos outros e todo seu orgulho. Queriam roubá-los e privá-los de expressar qualquer angústia, sendo a própria angústia o fim e o começo de todos os problemas, solucionáveis ou não, no contexto humano.
Eles cheiravam a novidade, mas o aroma não passava de fragrância fraca e barata comprada em qualquer mercado de esquina.
Mas gostavam da noite, da rua, da sarjeta e do estrago.
Gostariam de acordar e não despertar.
Queriam sempre não entender, pois compreender sempre foi mais difícil e nunca os levou a lugar nenhum.
Preferiam nem sonhar, pois isto desistimularia seus atos, que para os outros pareciam devaneios, ou mesmo delírios de luxúria.
Gostavam de apropriar-se de momentos não criados por eles, mas perfeitos.
E queriam sim, dividir seu ar.
Clamavam por um olhar, de atenção ou desprezo. E se sentiam felizes e realizados, se isto acontecia.
Andavam em grupos deformados na sua origem, mas puros na sua concepção.
Preferiam deslizar no chão. Pois pisar seria tão tedioso.
E, principalmente, olhavam nos olhos, mesmo que estivessem mentindo.
Pois gostavam de estudar o próximo e toda reação a favor ou contra eles próprios.
Brindavam à liberdade, sem citar o nome dela.
E se esbaldavam no eterno, enquanto transitório.
Lambiam seus lábios pra experimentar novas sensações e tinham medo das consequências, apesar de ausências serem bem piores para seus espíritos.
Sorriam como um saco de batatas sorri. Singelo, podre e inexistente, de satisfação plena.
Enfiavam até o talo o dedo na ferida alheia. Mas se divirtiam mais ferindo a si próprios.
E como gostavam de desejar.
Sentiam necessidade da vontade.
E só choravam por identificação mesmo.
Preferiam artes complexas e frias, a monumentos vibrantes e comprados por milhões.
Supriam-se do resto, do pó, da felicidade despejada no chão por outros mortais sem tanta sorte, ou genialidade.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Nada pode ser mais sincero que a arte (Ou O fim dos óculos vermelhos)

Sabe, sofia, não é tão fácil quanto parece.
Não pelo menos pra mim.
Nunca foi fácil amar e ser amado.
Eu sempre vivi assim, sob o efeito angustiante e eterno do, famigerado, amor platônico.
Sempre pensei em não me importar com nada, muito menos com a quantidade de amor que eu iria desperdiçar.
Mas, bebê, você me fez amar tão rápido e intensamente, que eu arriscaria dizer que não podia ser verdade. E, no fim, não era.
Tentei negar meu escritos, meus sentimentos, meus quadros, minhas desconfianças, mas era tudo real.
Era tudo triste e não tão satisfeito assim.
Eu pensava estar satisfeito.
Sim, eu já dizia ser feliz e sempre respondia que estava ótimo.
Mas não percebia que minha arte não estava nem um pouco alegre.
Percebi que tinha algo errado.
Mas, olha, te digo que você finge muito bem.
Seu objetivo foi concluído.
Conquistou-me.
E com o que queria nas mãos, parou de seguir em frente com a tentativa de, realmente, se entregar.
Claro, nem havia porque, pois eu mesmo já havia te entregado tudo.
Eu mesmo havia sugado toda responsabilidade daquilo que chamam amor pra mim.
Agora, me sinto descepcionado com as pessoas.
Descepcionado com o modo como elas levam a vida, ou, ainda, em como elas simplesmente ignoram qualquer outra fonte de sentimento, que não seja seu próprio peito.
Me sinto vazio e oco.
Despejei meu intimo numa bandeja e te servi, em pratos de prata.
Você se deliciou. Mas enjoou.
Nem pensou no quanto é difícil ser desejável por alguém.
Seus olhos me diziam coisas lindas e eu acreditava, acostumado a acreditar no 'espelho da alma'.
Mas esquecia sempre dos óculos vermelhos e de sua insegurança.
Sofri.
Vazio.
Angústia.
Desnorteamento.
Inutilidade.
Mas principalmente, fui inocente demais pra acreditar em qualquer coração que não o meu.
Saber que não vou ter mais o que me fazia dizer estar satisfeito.
Ou, ainda, saber que tudo que me fazia satisfeito era tão frágil (ou talvez nem existisse) que duraou apenas uns poucos meses, e mudou de um dia para o outro, como uma badtrip, que parece sonho e se torna dor.
Lembra aquele dia que chorei na praia?
Lembra como eu parecia desesperado?
Naquele dia eu TINHA que ter percebido que não era tão real assim, do seu lado.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Angústia cardíaca

Odeio a fragilidade inocente e a urgência do meu coração.
Ele atropela as coisas e pede tudo rápido demais.
Não consigo negar, pois sempre aprendi que o melhor a se fazer é seguir seu próprio coração.
Seguir a trilha que ele deixa me dá ansia de vômito e vertigem.
Sentiu, exigiu.
Com ele, sempre, sempre é preciso de mais.
E nunca, ninguém está preparado pra tanta intensidade, com tamanha rapidez.
Nunca fugi, mas quantos fugiram de mim já se tornaram incontáveis.
Queria poder pedir calma a meu coração e fazer ele respirar um pouco, com serenidade.
Mas ele prefere o agora e não quer saber de deixar fluir.
Prefere fazer acontecer.
E o pior, quando não consegue o que quer, não se acostuma com a perda e chora, sangra, dói.
E dói mais por ninguém compreender ele.
Bate forte, porra.
Arrebenta a pele do meu peito e se mostra.
Ele parece com todos os outros, mas bate mais forte e se incha de sangue: a velha angústia adolescente.
Angustiado com o pequeno porte da caixa toráxica que o abriga, comparado ao mundo que ele deseja conquistar.
Um grito alivia, mas um beijo, nunca volta.
E quando se entrega, ele parece sem controle.
Pede demais, exige demais, precisa demais. Não me deixa nem dormir.
Queria aprender um jeito de me comunicar com ele.
Ou de fazê-lo entristecer, sem precisar levar todo o resto do mundo para o precipício que parece tão enorme quando observado do ponto de vista do meu coração.