quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Análise sobre a sarjeta e seus quase-fiéis frequentadores

Eles queriam o suor dos outros e todo seu orgulho. Queriam roubá-los e privá-los de expressar qualquer angústia, sendo a própria angústia o fim e o começo de todos os problemas, solucionáveis ou não, no contexto humano.
Eles cheiravam a novidade, mas o aroma não passava de fragrância fraca e barata comprada em qualquer mercado de esquina.
Mas gostavam da noite, da rua, da sarjeta e do estrago.
Gostariam de acordar e não despertar.
Queriam sempre não entender, pois compreender sempre foi mais difícil e nunca os levou a lugar nenhum.
Preferiam nem sonhar, pois isto desistimularia seus atos, que para os outros pareciam devaneios, ou mesmo delírios de luxúria.
Gostavam de apropriar-se de momentos não criados por eles, mas perfeitos.
E queriam sim, dividir seu ar.
Clamavam por um olhar, de atenção ou desprezo. E se sentiam felizes e realizados, se isto acontecia.
Andavam em grupos deformados na sua origem, mas puros na sua concepção.
Preferiam deslizar no chão. Pois pisar seria tão tedioso.
E, principalmente, olhavam nos olhos, mesmo que estivessem mentindo.
Pois gostavam de estudar o próximo e toda reação a favor ou contra eles próprios.
Brindavam à liberdade, sem citar o nome dela.
E se esbaldavam no eterno, enquanto transitório.
Lambiam seus lábios pra experimentar novas sensações e tinham medo das consequências, apesar de ausências serem bem piores para seus espíritos.
Sorriam como um saco de batatas sorri. Singelo, podre e inexistente, de satisfação plena.
Enfiavam até o talo o dedo na ferida alheia. Mas se divirtiam mais ferindo a si próprios.
E como gostavam de desejar.
Sentiam necessidade da vontade.
E só choravam por identificação mesmo.
Preferiam artes complexas e frias, a monumentos vibrantes e comprados por milhões.
Supriam-se do resto, do pó, da felicidade despejada no chão por outros mortais sem tanta sorte, ou genialidade.

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