quinta-feira, 24 de março de 2011

Reflexão sobre os dias úmidos e quentes de outono

Sabe aquelas horas, dias minutos, instantes em que se torna difícil até tragar o cigarro até o final? Não por estar enjoado, ou nada deste tipo, mas sim por estar cansado demais até para isso.
E o levitar e sorrir se tornam apenas lembranças boas de um tempo nostálgico.
Quando o seu olhar parece morto e você não tem força nenhuma para abri-lo e fitá-lo em quase ninguém.
E ninguém às vezes faz falta.
Não depender ou não ter que pensar em ninguém e nem ter que suportar seus pesos, conceitos e outras coisas fúteis (quando olhadas de fora).
Coisas sem importância alguma para a sua vida ou até mesmo para a vida deles próprios.
E, na verdade você sente vontade de gritar, cuspindo na cara deles, que eles precisam, assim como você próprio acordar e sonhar novamente com coisas menos proibidas que antes.
A doçura de ser inocente sem ter que se passar como falso.
E a delícia exuberantemente única de poder se sentir vazio, sem pensamentos, preocupações, conceitos, esferas, ninhos, relações ou qualquer coisa daquelas que te tirassem o sono por encomenda.
No fundo se trata apenas de conseguir olhar nos olhos daqueles que te interessam e não ter que pensar em milhões de explicações para isso.
Automaticamente, nos tornaremos apenas o resto de algo que podia ser brilhante.

Um dia na vida dela

Todo dia ela acordava com um pulo.
Ligava seu ipod encaixado numa caixinha de som.
E dançava desajeitadamente.
Trajava uma camisola amerelo claro, com um passarinho estampado.
Ia rebolando em direção ao banheiro.
Lavava o rosto, pegava seus óculos de hastes pretas na pia.
E ao encarar o espelho através das lentes, percebia haver algumas gotas de água.
Limpava-o na barra da camisola e sorria timidamente ao pôr os óculos de novo e se olhar, descabelada, no reflexo.
Despia a camisola e cobria com as mãos magras, seus pequenos seios.
Nunca se olhava nua, no espelho.
Tomava um banho quente, bem quente e simulava se tocar, apesar de nunca ter tido coragem de excitar seu próprio corpo até o gozo.
Tomava banho de óculos. Pois sem óculos, se sentia mais nua ainda.
Ao sair, se enxugava no banheiro e se trocava no quarto, onde podia continuar ouvindo as músicas que saiam de seu mp3, quase sempre doces e suaves.
Deixava deslizar pelo seu corpo, um vestidinho, com uma textura muito fina, daqueles que não se pode passar à ferro, com uma estampa de flores, que havia ganho da sua avó alguns anos atrás.
Prendia seu encaracolado cabelo num coque bem seguro, no topo da cabeça e deixava uma ou duas mexas cairem, parecendo pequenas molinhas.
Arrumava sua mochila, decorada com desenhos singelos e japoneses.
Dentro iria seu caderno, com capa cheia de flores, suas canetas coloridas e perfumadas.
E sempre deixava por último, o que considerava principal, seu estilete.
Ela sempre imaginava estar mais protegida por ter um estilete na mochila.
Nunca usou-o e nem saberia se conseguiria fazê-lo ao precisar.
Mas se sentia mais segura com ele.
Na tela do PC, ligado desde o dia anterior, conferia os downloads de séries e animes que havia deixado baixando, limpou a lista de downloads e pôs mais alguns para baixar.
Desceu as escadas e foi tomar seu, sempre desejado, copo de café puro.
Escovava os dentes com um cuidado excepcional, sempre pensava que aquele menino que a encatava, na escola, iria olhar, falar e beijar ela neste dia, mesmo ele nunca tendo nem notado sua presença.
Saia pela rua, andando por um clima ameno, com árvores floridas, a sombra delas, poucos carros, e folhas secas pelo chão.
Adorava este caminho.
Em menos de dez minutos, chegava a sua escola e se sentava num banco que parecia reservado para ela, onde podia ver todo mundo chegando (pricipalmente o menino que a deixava sem ar). Mas ninguém a conseguia ver, por ficar escondida perto de uma grutinha, com imagem de santa.
Era aplicada e podia-se perceber sua inabilidade de fazer e, principalmente, manter amigos.
Nunca comia na escola, morria de vergonha de pensar em mastigar na frente de seus colegas.
E mesmo não abrindo a boca, a não ser na hora em que os professores perguntavam algo, ela voltava sorrindo, pelo mesmo caminho sombreado da manhã.
Chegava em casa, almoçava com sua mãe, que também nunca dizia nada.
Voltava pro quarto e tentava de novo se tocar, desta vez pensando no menino do colégio.
E desistia, mais uma vez, por pensar em como o menino iria rir e caçoar do frágil e pequeno corpo dela, ao vê-lo nu.
Sem graça, iria assistir seus animes, que hoje eram eróticos.
Mas nem aquilo a excitava, pois não se punha nunca no lugar de uma mulher desejada.
Ao anoitecer, preferia ir dormir.
Sonhar com seu principezinho encantado que nunca a olhou.
Tentava dormir sem roupa, mas ao esbarrar em qualquer parte nua de seu corpo, se sentia constrangida e vestia sua camisola amarelinha.
Sonhava com um abismo e gostava de sentir a sensação de cair, em sonhos.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A folha branca sempre me parece tão mais interessante

Saber que ao virar as páginas de seu caderninho recém-comprado em qualquer mercadinho de bairro (ou condomínio), ele irá se deparar com mais e mais folhas em branco.
Esperam apenas existirem e esperam, ansiosamente, serem preenchidas de riscos ou palavras.
Ele admira a capacidade de ser folha em branco e passa a idolatrar aqueles que conseguem viver sem nada, apenas existindo, como folhas em branco e esperam serem escritas ou rabiscadas, mesmo sendo lindos, assim, em branco.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O hardcore nunca vai morrer, mas você vai...

Os parêmetros já foram traçados.
Os caminhos foram escolhidos.
Agora vamos brincar,
Vamos bagunçar,
Vamos dançar,
Vamos criar o caos
Ou o mal.

Vamos matar,
Vamos aproveitar,
Vamos transar.

Vamos não ligar,
Vamos desapegar,
Mas não totalmente.
Nunca consiguiríamos.

Vamos... não mais esperar.

Sim, queremos dançar.
Não queremos cuidar.

Queremos tudo,
Queremos mais.
Nada mais nos satisfaz.

E até o porquê foi esquecido.
Esquecemos até do perigo.

Mas já prevíamos.

"Vamos agitar a procura de um lar"
Mas esquecemos de perceber
Que o lar é seu ser.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O desapego volta a bater em tua porta, mesmo que não queiras reconhecer o futuro

Acho que algum tipo de sabedoria nasce quando se desiste de julgar as coisas ou pessoas.
E é fato que jamais será conhecido, reconhecido, invetado, merecido ou desejado qualquer previsão, idéia ou relato sobre o futuro em si.
E em si, prefere procurar por ti.
Esquece-se de encontrar a si prórpio e mergulha num daqueles mares profundos e significativos, observados pelas lentes oculares, pupilas e outros corte-caminhos para a alma de outras pessoas.
Gosta, agora, de julgar não mais os outros, e sim a si próprio.
E lhe confere uma carga tão pesada e difícil de carregar, quanto pífia e vazia.
Dificulta seu próprio caminho inventando trejeitos de se reinventar por não estar satisto com sua própria imagem ou modo de vida.
Precisaríamos, então, também nos esquecer. And then, go on.
E tomaríamos um caminho quase impensável, rumo ao desapego.
Assim, nos tornaríamos livres?
Se parassemos de nos preocupar com absolutamente tudo e pudermos até nos apagar de nossa própria memória, seríamos felizes?
Sobrevida ou selvagem?
Comprar ou pagar?
Desejar ou amar?
Parar ou sonhar?
Ter ou desapegar?
Seria tão fácil soltar tudo a que nos prenderam a tanto tempo?
Seria seguro, desejoso?
Ou seria solitário e nos faria sentir desamparados e abandonados?
No fim a melhor opção sempre será tentar parar de notar tanto as coisas.
Desapegar até mesmo de suas opções, opiniões, conceitos, ideologias e crenças, mesmo aquelas não-intencionalmente grudadas em sua mente.
Soltar e deixar de tentar pegar tanto assim.
Só é possível voar assim, permanecendo vazios.
E lá nas nuvens, por sua vez, vai passar e talvez quebrar o próprio arco-irís, e verá que se tornou mais fácil, estar completo.