quarta-feira, 7 de abril de 2010

Me apaixonei pela única pessoa, que não pude influenciar

Nasci assim, sempre que quis, pude modelar o pensamento, crença, vontade ou simples devaneio, de qualquer pessoa, que eu conseguisse conversar.

Era como um poder mágico, parecia sobrenatural, mas no fundo era só uma questão de analise.

Ao conhecer, ou ver qualquer pessoa que me despertasse o interesse de mudá-la, eu a olhava e estudava por completo. Por isso era bem calado. Eu sempre preferi observar.

E olhando de verdade uma pessoa, é fácil descobrir todos os seus segredos, medos, ou simples teimosias.

Olhar de verdade, é não precisar perguntar nada.

Sempre achei melhor fazer isto, antes de me relacionar com qualquer pessoa.

Era solitário, mas valia a pena.

Eu podia, transformar a cabeça de qualquer pessoa, numa coisa que me agradasse.

Era puro e nojento, fazer isso.

Mas eu continuava, afinal, não era qualquer um que podia, fazer o que faço.

Pude dominar todos que quis.

Mas nunca quis muito.

E da única vez que quis de verdade, não pude fazer.

Conheci, um tempo atrás uma menina.

Ela era frágil, pequena, e esquiva.

Parecia fácil mudar tudo dentro dela.

Mas não me apresentei. E relamente vi potencial nela. Pude vê-la ao meu lado, mudando o mundo (ou coisa assim), bastava apenas falar-lhe. E, eu sei, conseguiria tudo que quisesse, com ela, como antes, conseguia com todas pessoas.

Dias passaram. Meses, acho, também passaram.

Todo dia era mágico, só observá-la.

E era engraçado, eu via que ela era tudo que eu precisava naquele momento, bastava mudar pouquíssimas coisas dentro daquela pequena cabeça.

Falei-lhe:

- És o que procuro. Venha aqui, agora.

Ela me olhou com olhos de vidro. Vidro quase espelhado. E nessa hora pude perceber. Ela me ouviu, mas não parecia dominada por minhas palavras. Estranho.

- Não, ela respondeu e me virou as costas.

Bastou isso.

Me apaixonei completamente.

Ela era a única pessoa no mundo, que parecia não ser afetada por mim. Era lindo, ver isso.

Era como se eu fosse o que eu sempre pensei ser. Nada.

Eu era comum. Hipócrita, frágil e idiota como todo mundo.

E era bom saber disso.

Mas ela veio.

E eu tive medo. Foi estranho tentar me relacionar com alguém que eu sabia, não estava hipnotizado, louco, ou suscetível a meus pensamentos.

Eu estava nu na frente dela.

E eu estava morrendo de vergonha, por ela poder ver tudo, tudo o que relamente sou e escondi por anos, atrás dessa minha mania de mudar o pensamento dos outros.

Eu só fazia esconder-me, e ela me mostrou tudo de podre que eu era em apenas um olhar e um gesto.

Me beijou, como se eu pudesse a fazer feliz.

Aquilo me aterrorizou, me paralizou, na frente dela. Com os olhos colados, com aqueles olhos de vidro lindos, tranquilos e doces dela.

Louco, fugi.

Fugi e fiz toda questão do mundo, de fugir para um lugar onde não poderia ver ninguém. Nada vivo ou com consciência por perto.

E pude pensar.

Demorei alguns anos, e pensei que não voltaria. Nunca mais botaria meus pés em uma daquelas bolhas de pensamentos vazios, que chamam de sociedade.

Pensei que apesar de poder ter quase tudo, era inútil, pois sempre iria de haver uma pessoa que não seria influenciada por mim.

E que me fez cair de joelhos por ela.

Me apaixonei pela única pessoa, que não pude influenciar.

E então resolvi deixar de existir.

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