sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Óculos vermelhos

Estes óculos vermelhos existem, estão prostrados diante de mim e em cima de minha toalha de mesa verde.
Ela gostava de cheirar a mistério e preferia nunca deixar tão claro o que queria. Não por não saber, sim para atiçar a curiosidade alheia.
Sua textura quase rubra e totalmente lisa, me remetia a seu rosto e a exatamente o olhar que devia e podia ser escondido por aqueles óculos vermelhos.
Ela me olhava como um gato e adorava agir tal qual.
Gatos me deixam empático, curioso, desejoso e, essencialmente, livre.
Eles, os gatos, gostam de assediar nossas vontades. Nos fazem desejá-los, mas fogem sempre a qualquer movimento de aproximação.
E pessoas como gatos exercem atração e degustação a mim e ao meu desejo de conhecer. Pois gatos, na verdade, desejam ser o centro mais desejado, lindo e limitado de toda a atenção.
Gostam, as pessoas e os gatos, de serem desejadas, mas não exatamente tocadas.
E ela esconde seus olhos, maliciosamente, por trás dos óculos vermelhos que parecem me fitar com a mesma firmeza do olhar dela.
Sim, os óculos vermelhos combinam com seu ar de palhaça mais bela do circo. E com suas atitudes e intenções de olhar, tão facilmente decifráveis.
Gosta dos problemas, somente por eles serem uma fuga da rotina chata, angustiante e tão... Confortante.
E ter preguiça é ato do instinto, diria ela afirmando que eu falaria isso com ar de sabe-tudo.
Admitir é meio chato, às vezes.
Mas não evito sinceridade com aqueles que me apetecem por mais tempo que uma noite.
Seus olhos, e seus óculos vermelhos, me incitavam a praticar o mais louco ato de liberdade romântica e, ao mesmo tempo, a demandar toda e qualquer vontade do corpo pra um lugar onde isto não afete, ou fique, tão perto assim, do meu impetuoso coração.
E vírgulas me comovem.
Ela é mestre nas vírgulas e nos três pontos intermináveis.
Admirava (o gosto fugaz e louco dela) o silêncio precedente de um estrondo, seja este emocional ou, virtualmente, real.
Preferia o último momento, e não pensaria que o mundo acabaria em 2012, pois, simplesmente, não está em dezembro de 2011.
Gostava de enigmas, mas não os decifrava tão fácil assim, quanto parecia.
Seus óculos me lembram o sol e o jeito dela e delas, de serem oficialmente aptas a me proporcionar prazer falso e jovial e a me dar segurança de um mundo sem finais rápidos, me proporciona alegria e afeto.
Por isso olhar para trás quando uma menina esteticamente perfeita (para um quadro realista, ou para um simplesmente conceitual) passa a acontecer diariamente e momentaneamente.
E ela não entende que aquilo é amor, ou, simplesmente liberdade, palavra bem próxima, semanticamente, de libertinagem.
E preferia a orgia ao solitário sexo à três, também semanticamente 'falando'. E não ela, e sim eu.
Se fosse ela, eu e nós, ela acharia excitante, como ter alguém capaz, ou próximo de realizar seus fascínios.
Já isso vale tanto pra ela, quanto pra mim.
Gosta do cheiro de outras rosas, algumas tão próximas que se tornam impossíveis de não serem a maior causa de um beijo no escuro, quando sua vida poderia estar tão clara, se eu mesmo desejasse.
Mas não desejei, pois o escuro, infelizmente é mais atiçador, eu diria, do que o claro.
Mergulho na escuridão da pupila, preta, dela.
Acordo com lágrimas nos olhos e vontade de me identificar.
Ela é perfeita.
Assim como meu desejo de ver outros óculos vermelhos, ou verdes mesmo, sejam tão fortemente e tão perfeitamente intensos quanto as vontades dela de se sentir segura.
E sempre espero uma cena de filme pornô, daquelas que acontecem simplesmente ao acaso.
Ou cenas feitas para parecerem aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaacaso.

Fim (do dia de hoje).

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