segunda-feira, 7 de junho de 2010

O cheiro de terra molhada e o perfume nostálgico das flores

Eu sei que eu tinha uma rosa.
Ganhei de uma forma tão linda e merecida, que na hora eu pensei em nunca deixar aquela rosa morrer...
Eu a botei em um lindo vasinho, que comprei com algumas moedas que tinha achado pelo chão.
Todo dia de manhã eu acordava mais cedo que meus pais e enchia um copinho de água da torneira e ia regá-la.
Era tão lindo ver ela nascendo com aquela luz do amanhecer. Aquilo me dava forças para levantar e continuar andando.
Por incrível que pareça a rosa mudava de cor todo dia.
Havia dias que ela estava vermelha, tão forte que me lembrava o sangue. Ela ficava desta cor principalmente nos 2 primeiros anos de vida.
Outros dias ela estava azul. Serena. Parecendo que tinha o tempo inteiro a seu dispor. Ela geralmente ficava assim quando tinha 3 anos.
Mas depois de algum tempo ela foi ficando cinza.
E o amanhecer não parecia mais tão bonito assim.
Passei a acordar tarde, passei a não ter mais vontade de acordar, passei a sair de casa sem nem mais olhar minha linda rosinha.
Fui viver minha vida, tentar ser independente, tentar não me prender a nada.
Sai da casa de meus pais, aluguei um quartinho.
Levei a rosa.
Ela parecia ter voltado a cor vermelha.
Mas algumas pétalas pareciam azuis demais.
A rosa me fitava com ódio. Com olhar de reprovação. Parecia dizer que eu estava acabando com tudo.
Ela precisava de mim.
Eu adorava ela, e toda aquela sensação de segunda de manhã ensolarada e que não tinhamos nada mais grave a fazer do que ir assistir algumas aulas de ciências.
Um dia desses me lembrei de como eu almejava por uma flor dessas, quando nunca tinha tido nenhuma.
Eu chegava a sonhar.
Mas não imaginava que teria que me dedicar tanto assim.
Não imaginava que ela podia ser tão frágil.
Não imaginava que eu teria que escolher tantas coisas assim.
Eu não queria mais nada que exigisse mais de mim do que eu mesmo.
Pensei em deixar a rosa sobreviver sozinha por um tempo.
E deixei.
Não deu certo. Ela estava murcha e amarronzada com menos de uma semana. Ela me fitava com olhos de ressaca. Como se aquele tempo que eu dei para ela tentar sobreviver sem qualquer ajuda minha fosse tempo demais.
Pude perceber que ela precisava de mim. De verdade.
E eu queria ser capaz de mantê-la viva.
Queria ver ela brilhando. Vermelha. Ou azul. Tanto faz.
Eu precisava dela pelas manhãs.
Voltei a regá-la.
Agradecida, ela se esforçou e conseguiu se virar melhor sozinha.
De noite eu chegava em casa e ela estava bem. Rosinha. Não vermelha. Mas bem.
E eu passava a noite conversando com ela.
Mas de manhã eu havia adormecido.
E sem as manhãs, me perdi novamente.
Até que um dia, vi uma floresta linda no meu quintal.
Havia tantas rosas. Tantas precisando de um pouco de atenção, ou até de um carinho.
Senti vontade de trazé-las todas para casa.
Eu queria ser um floricultor.
E haviam mais que rosas. Haviam flores que de tão exóticas e misteriosas, soltavam um perfume que me remetia áquelas mesmas manhãs que passei com minha primeira rosa.
Minha rosa, foi vendo outras flores por perto. Foi voltando a ficar cinza.
Aquilo me deixava triste.
Eu queria que ela me deixasse estudar outras flores.
Queria ter mais do que uma flor na vida.
Mas eu quis demais.
E minha rosa morreu numa tarde de domingo.
E foi desesperador aquele momento. Eu sabia que logo, logo iria amanhecer e seria segunda e eu não teria mais nada além da lembrança da minha primeira rosa.
E depois dela. Nada, nenhuma rosa me fez tanto querer levantar e enfrentar a manhã da segunda feira, como ela tinha feito.
Juntei todas as flores que havia acumulado. Inclusive o vasinho vazio da minha primeira rosa.
Deixei todas elas na janela da minha casa e me retirei para meu quarto.
Nunca mais quis ver uma flor.
Nunca mais consegui sair do meu quarto, pois sabia que o primeiro cheiro que me viria às narinas seria o cheiro de terra molhada e o perfume nostálgico das flores.

Um comentário:

Unknown disse...

meu irmão veiiiii, muito lindo esse texto!
eu peguei ele pow, viajei de verdadeee!
tem um sentimento tao lindo, não sei como explicar! *___*

;*